Duas Damas ao espelho
Radiografias da Alma
terça-feira, 11 de outubro de 2022
Asas
domingo, 9 de outubro de 2022
Manhãs no campo
terça-feira, 4 de outubro de 2022
Tagarelices e julgamentos
sexta-feira, 23 de setembro de 2022
Adoro ser professora
quarta-feira, 21 de setembro de 2022
Mansinho
Mansinho, o gato do meu
coração... Agora consigo escrever sobre ti ...
As lições só nos podem vir de
quem está mais próximo. E o Mansinho trouxe-me uma grande lição, ou melhor
várias lições.
Há quase três anos, numa manhã fria de novembro, o Mansinho entrou na minha vida. Eu tinha estado a alimentar os gatos de rua à noite, chuviscava e estava muito frio e ele tinha lá estado; já o conhecia, era manso e atrevido, independente e misterioso. Custava-me muito vê-los aí, a comer à pressa debaixo do carro, cheios de medo e de frio. O Mansinho tinha pedido várias vezes para entrar, mas não o deixei. Nessa noite, quando fechei a porta, ele tinha ficado no limiar da porta. De manhã, doze horas mais tarde, ainda lá estava, no mesmo sítio. Senti que o Universo me estava a dizer que ele veio para entrar na minha vida. Abri-lhe a porta e entrou. Poucos dias depois ficou doente, as glândulas salivárias estavam aumentadas, ele mastigava, mas não engolia, emagrecia a olhos vistos. Para dar entrada na veterinária era preciso dar-lhe um nome, ficou Mansinho. Foi operado e recuperou bem, felizmente. Era mesmo muito manso e ao contrário dos outros gatos da casa, não procurava os lugares mais confortáveis para dormir. Gostava de variar de sítio, de experimentar as bancadas da oficina, o cesto da roupa, o lavatório, os móveis mais altos, a impressora, e de noite gostava de dormir à porta do meu quarto, como os grandes felinos na Roma antiga que dormiam a porta dos seus tutores.
Quando lhe pegava ao colo sentia
um Amor tão grande que não tinha sentido com nenhum dos outros quatro gatos que
me eram próximos.
Há dois anos, o Mansinho tinha
desaparecido durante dois dias e eu fiquei tão ansiosa, com o meu karma de
apego à flor da pele. Sentia a falta dele como se tivesse desaparecido da face
da Terra.
Num dia de maio do ano passado, o
Mansinho despareceu sem deixar rasto. Às vezes estava mal-humorado com os gatos
companheiros da casa e muitas vezes com os da rua. Quando saiu, num sábado,
veio até à porta de entrada como que para se despedir, e depois partiu … Pensei
que iria regressar depois da Lua cheia de domingo, mas não voltou ...
Procurei-o, chamei-o por todo o bairro, de dia, de noite, nada … Aos poucos
percebi que não voltaria… Provavelmente se teria escondido para morrer sossegado
como os gatos muitas vezes fazem … Comecei a aceitar a me fragilizar, finalmente
chorei, deixei de focar nele, no que tinha feito, para começar a focar em como
me sentia, na tristeza enorme que sentia no meu peito. A vida me estava a propor
um desapego forçado, já que não tinha conseguido desapegar quando ele ainda
estava na minha vida; comecei a me pôr em causa, a entender que ele afinal precisava
de mais liberdade, liberdade para se reinventar todos os dias, sem a sombra da
minha preocupação de que lhe poderia acontecer alguma coisa … E chorei por não
ter conseguido aproveitar de uma forma mais evolutiva o tempo que ele esteve
comigo. Passada uma semana escrevi aos meus amigos uma mensagem de homenagem ao
Mansinho : << … Foi uma lição que me deu, na vida e na morte : como viver
e como morrer com dignidade. Ele, um verdadeiro felino, deixou-se tratar por
duas vezes, na doença. Desta vez, provavelmente sentiu que tinha que ir. E foi
com a dignidade própria de um felino. Até sempre, Mansinho ! Espera por mim to
topo de Arco-íris ! Foste uma prenda do Céu na minha vida ! >> e comecei
o meu luto …
Uns dias mais tarde, grande felicidade,
apareceu o Mansinho, muito carente de festas, mais magro, esfomeado ... Eu
estava muito contente e senti que ele tinha voltado para eu ter a oportunidade
de treinar o meu desapego… a vida o tinha trazido de volta para continuar a me
ensinar. Comecei a lhe dar mais liberdade …
O tempo passou e parte da lição
ficou esquecida… de noite sempre o fechava em casa… Eu, no fundo, sentia que
deveria respeitar os pedidos dele, mas o meu ego, a zelar pelo apego disfarçado
de proteção, não me deixava … e eu me conformava com o “mais confortável” …
Este ano, no final da primavera, dois dias
antes da Lua cheia de maio, o Mansinho foi para a arvore do pátio, um
jacarandá, e ficou a dormir em cima dum ramo grosso todo o dia, olhando para
mim enquanto estava a trabalhar. Ao pôr do Sol, quando o chamei para comer, ele
apanhou na direção oposta. Ainda fui abrir uma claraboia e quando me sentiu
perto, desatou a fugir pelos telhados vizinhos até que o perdi de vista. Senti
uma rejeição enorme, que já tinha sentido com pessoas, em tempos. A minha mente
procurava incessantemente motivos para o que tinha acontecido, soluções rápidas,
pensos rápidos, procurava o que poderia ter levado a este desfecho … Uma procura
feita no campo errado … estava nervosa e me sentia injustiçada de o Mansinho me
rejeitar assim … Finalmente comecei a cair em mim, na tristeza de as coisas
serem assim … Fiz terapia da dor da rejeição, AUTOCURA, mas guardando em pano
de fundo a ideia que ele ainda há de voltar, está é “mal comportado”, o que fazia
como que eu não me rendesse por completo … Eu sabia que está tudo
milimetricamente orquestrado no Céu e estava a limpar dores muito profundas, de
vidas passadas de apego e rejeição. Um dia pedi ao Livro de Amor da Alexandra
Solnado, uma mensagem. Recebi a mensagem 84, Insulto. Comecei a integrar, a
interiorizar que, o que aconteceu não era contra mim, eu não era o centro do
Universo e as coisas não giram à volta de mim, mas há um movimento próprio universal
e, eu e o Mansinho fazemos parte desse movimento. A minha perspetiva mudou. Conseguia
olhar para cima, para o ramo onde o Mansinho tinha estado antes de partir, e ver
por trás o Céu. Grande lição, ao encarar a minha dor de apego, o Céu me
amparava. Cada vez que atravessava o pátio, dezenas de vezes por dia, olhava
para cima e via o ramo e o Céu e comecei a sentir gratidão pela lição - o meu
karma de fé estava a ser trabalhado ao mesmo tempo – e sentia a ligação ao Céu
cada vez mais forte. Nas meditações de AUTOCURA, no meu Templo, começou a
aparecer o Mansinho, em Luz. Primeira vez, fiquei admirada e não lhe liguei.
Quando apareceu segunda vez peguei nele e ao peito, como fazia na matéria, e
senti profundamente aquele Amor divino, fiz crescer esse Amor e me nutrir, era
mágico. Cada vez que ia ao Templo de Cura ele estava lá a assistir e no fim eu
pegava-lhe e fazia crescer o Amor. Percebi que a lição era sentir profundamente
a vibração do Amor e fazê-la crescer na minha vida. Também fiquei tranquila
porque, pensava eu, se vai ao Templo de Cura provavelmente passou e já não está
a sofrer. Percebi que o Mansinho veio mesmo para me ajudar a limpar os meus
karmas, amorosamente. Ele fez o que tinha de fazer, de acordo com o movimento
da Vida, esse fluido energético de sabedoria. Ele escolheu cumprir com a lição,
não foi por me rejeitar, mas por Amor por mim. O Céu fez-me entender como foi
difícil ir embora. Quando desatou a fugir, ele escolheu cumprir o seu desígnio,
se ficasse mais um segundo, já não teria capacidade de seguir. Tinha ficado a
me olhar do cimo do ramo todo o dia, a sentir que tinha que fazer a escolha, e
cumpriu, fez a escolha mais evolutiva. Percebi, finalmente percebi, como isso
foi difícil para ele. E chorei, e me rendi, à Luz.
Três Luas cheias mais tarde, em
meados de agosto, o Mansinho voltou. Quase que me tinha esquecido como é bonito
… Gratidão Mansinho pelos ensinamentos !
Aprendi que a chave é a aceitação
; aprendi a honrar a minha Alma e a Alma do Mansinho. Agora, de noite, quando é
hora de dormir, se ele quiser sair, abro-lhe a porta … Ele tem que viver feliz !
Isso aconteceu comigo, mudou a
minha vida, fez-me subir mais uma oitava na espiral evolutiva, e inspirou mais pessoas nas suas relações com humanos.
Bem hajas Mansinho !
PS. Enquanto estou a escrever :
segunda-feira, 19 de setembro de 2022
Desafios e emoções
domingo, 11 de setembro de 2022
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