terça-feira, 11 de outubro de 2022

Asas


Sinto as minhas asas a nascer.
Em maio passado senti dores horríveis nas costas. Parecia que um objeto cortante as perfurava, no sítio das omoplatas. Ai, tanta dor. Os sintomas do mundo físico indicaram que eu estava com COVID, mas eu sentia que era uma transformação espiritual que se estava a processar em mim. Na minha intuição, eu via asas que queriam sair das minhas costas. Eu sentia que o meu corpo físico estava a mudar e a nível espiritual eu sentia a mudança. Não me perguntem como, há coisas que sentimos, sem ser necessário ver. 
Não me conseguia zangar por estar doente, eu sabia que iria ficar bem, eu tinha uma confiança interior muito forte que era uma fase passageira e que eu precisava de passar por ela. “Era preciso”, dizia-me uma voz interior. “É preciso que assim seja”. E eu aceitei. Entreguei ao céu e confiei. Algo que aprendi a fazer. E é mágico. Pois eu aprendi que o que tiver que ser, será.

Desde essa altura, sinto que estou diferente. É como se um manto negro tivesse saído de cima de mim e voasse para longe. Agora, a vida faz mais sentido. Já não me zango tanto. Não me tornei santa, não, mas passei a entender melhor o propósito de estarmos aqui neste planeta. Tudo faz mais sentido: o passado e o presente. Sinto maior leveza em mim, sinto-me pacificada e tento trazer mais a luz aos outros.

Isto é um caminho e não um fim em si mesmo. Por isso digo que sinto as minhas asas a nascer. Para mim, as asas são sinónimo de leveza, da forma como quero encarar a vida terrena. Quero voar para o alto, passear pelo Universo, estar com anjos e seres de luz. E quando tiver que voltar, guardo as asas e caminho pelas paisagens lindas do nosso planeta, alegro-me sempre que puder, fico triste se assim tiver que ser, porque é essa a nossa missão aqui: experienciar emoções boas e menos boas. É essa a maior riqueza deste planeta: a dualidade. Aqui podemos vivenciar uma emoção e o seu contrário. O modo como as encaramos é que torna tudo tão especial. Podemos ter asas ou não. A escolha é nossa!

domingo, 9 de outubro de 2022

Manhãs no campo

     (foto do nascer do dia)

Pelo caminho de manhã
Bebo as cores da paisagem.
As retas levam aos campos pintalgados de árvores
Que ainda apresentam os tons de verão.
Aqui e além o panorama campestre
Vai ficando matizado de casas brancas e amarelas.
O sol, ainda baixo, bate nos olhos
Pestanejando de sonhos
A esperança de um novo dia.
As nuvens embora raras
São carneirinhos realçando o céu.
O horizonte parece uma tela pintada de
Laranja, salmão e rosa
Que se junta à paleta de azuis
Uma mistura da noite com o nascer do dia.
As vinhas ganharam cor e os homens juntam-se a elas
Descendentes de Baco cuidando da colheita do néctar divino. 
No Ribatejo é a harmonia com a natureza que torna tudo tão especial.

terça-feira, 4 de outubro de 2022

Tagarelices e julgamentos



Esta tarde três senhoras de idade sentadas no banco do jardim conversavam. Uma falava, as outras ouviam. Foi uma hora assim. Uma falava, as outras ouviam. Os meus ouvidos latejavam de tanta tagarelice.

Estava à procura de um local para refletir em silêncio e o banco do jardim parecia convidativo. Vinha com intenção de me inspirar e escrever. E afinal consegui. Não propriamente sobre coisas belas e bonitas como esperava, mas a inspiração veio.

A senhora faladora contava histórias de tempos passados. Seria interessante ouvir, se não fosse o caso de que tudo o que dizia era julgamento acerca dos outros, daqueles que passavam.

Eu não quero, também eu, julgar a senhora (não a conheço), mas sem querer julgá-la, inevitavelmente, lá vou julgando. Faço um esforço e dou por mim a tentar analisar o que ela diz para que não pareça julgamento.

Apercebi-me que uma das três senhoras era freira, porque todos os jovens que passavam a cumprimentavam. Essa era a mais calada de todas.

A certa altura, a freira, pegou na sua bengala, levantou-se devagar e não sei se se fartou de tanto julgamento, disse que tinha de ir porque não podia estar muito tempo sentada. Passou por mim e sorriu com um ar sincero. Sorri de volta.

As outras duas senhoras continuaram na sua conversa opinativa sobre todos os que passavam.

Passou um senhor invisual e a senhora faladora contou a história de uma “cega preta” que acolheu em sua casa há uns anos e que era uma “chata” que queria fazer dela a sua “criada”, acabando por ter de “a despachar” dando a desculpa que precisava do quarto para o filho.

Depois passou uma moça com cerca de vinte anos. A moça olhou para elas, estas pararam de falar, cumprimentaram-na. Quando ela se afastou a senhora mais tagarela disse à outra: “Ai, esta menina quando era bebezinha era tão bonitinha, mas depois cresceu e fez-se tão feia, coitadinha. É a cara do pai, coitadinha”.

Fiquei sem palavras. E ri. A sério! Comecei a rir sem conseguir esconder. Se, no início, me senti incomodada com a conversa, no final, acabei por achar engraçado os seus comentários pois, por um lado, acabaram por me arrancar risadas espontâneas e, por outro lado, foram a minha fonte de inspiração para a escrita.

Que terão elas pensado ou dito de mim? Uma mulher aparece de repente com um caderno na mão e começa a escrever como se as linhas estivessem a fugir. Lá diz o povo: “Nas costas dos outros, vejo as minhas”.

Foram momentos verdadeiramente burlescos. A tarde estava amena, o banco chamava-me e eu estava com tempo para escrever. Não sabia sobre quê, mas o tema surgiu por si. Era a junção perfeita.

Conversas como estas são frequentes entre pessoas de idade e fizeram-me constatar que o ser humano ainda julga muito os outros. Olhamos tanto para os problemas e defeitos dos outros que nos esquecemos de ver o que está mal em nós próprios. Esquecemos que todos somos imperfeitos. São estes sentimentos que não nos acrescentam valor nem deixam que a nossa essência se manifeste. São estes sentimentos que temos de superar. Para algumas pessoas, como os idosos, pode ser tarde para mudar, mas todas as gerações mais novas ainda estão a tempo de o fazer. Todos, nos devemos comprometer em subir a nossa vibração para sentimentos mais elevados de paz, harmonia, compaixão, empatia, solidariedade e amor.

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Adoro ser professora


Adoro ser professora. É algo que vem de dentro, da minha alma, da minha essência.

Não partilho da ideia de ‘ensinar’. Para mim, isso é apenas transmitir e eu não ‘ensino’ porque aprendo tanto com eles, todos os dias. Sinto que faço partilha. Sou uma ‘partilhadora’ de conhecimentos. Eu partilho o que sei e eles partilham comigo o que sabem. Assim, sinto-me sempre jovem, atualizada. Sei as tendências da moda, da música, das tecnologias, do calão, do comportamento, é incrível. Às vezes, confundo-me no meio deles e esqueço a minha idade.

Costumo dizer que sou uma orientadora de saberes, uma mentora, uma “descobridora” dos seus talentos. Porque aqui reside a maior dificuldade dos nossos jovens. Eles não precisam de professores. Atualmente esta nova era, estas novas gerações de crianças e jovens sabem exatamente o que querem aprender, o que gostam ou não e não querem fazer frete. Não querem apanhar ‘seca’ e, pequenos ou grandes, eles dizem isso aos professores, não estão com “meias medidas”. Não precisam de professores que lhes digam: “É assim e é assim que tens de aprender ou saber ou fazer, porque eu digo.” Eles não querem isso. Eles questionam. Eles perguntam, “Porquê? Para quê?” Eles sabem o que gostam, mas não sabem é como procurar a informação que pretendem ou, principalmente, onde encontrar informação verdadeira, credível, fidedigna. E quando descobrem o que gostam, não sabem como transformar isso em algo real. Aí está o papel do professor/mentor. Aquele que vai tentar entender a cabeça do seu aluno, os seus interesses e tentar descobrir os seus talentos. Aí entro eu, sim. Aí sinto-me bem. A ajudá-los. A ouvi-los.

Lembro-me dos rostos felizes das crianças e jovens com quem já tive o prazer de partilhar uma sala. Foram bons momentos, muitos deixaram saudades. Criei amigos. Claro que nem tudo foram rosas. Estas têm muitos espinhos. A sociedade queixa-se que as crianças e os jovens estão cada vez mais mal-educados, malcomportados. Em parte, é verdade, sim. Mas é preciso olhar pela perspetiva deles. Tudo à nossa volta evoluiu, tudo. Até a Física Quântica veio provar que somos feitos de energia, constituídos por átomos e que tudo à nossa volta nos afeta emocionalmente e fisicamente.

Já fomos tão longe, mas a educação em Portugal, pelo menos, no plano da escolaridade obrigatória tem um longo caminho a percorrer, muito longo mesmo. E começa na coisa mais básica que é a planta das salas de aula. Mais de 60 anos depois continuamos a ter ‘autocarros’ nas salas de aula, giz, mesas e cadeiras pequenas tendo os alunos que se sentar com as pernas do lado de fora da secretária. As escolas que felizmente têm computadores, estão todos obsoletos: ou não trabalham ou são muito lentos. Nem comportam os suportes de dados que temos hoje. Temos uma gigantesca ‘bola de neve’ por resolver que passa por ninguém querer ser professor porque os que ainda resistem estão cansados, envelhecidos e querem, merecidamente, ir para a reforma e os novos sabem as tormentas da classe e nem tentam enveredar por ela. Fogem.

Hoje perguntei a uma turma de meninos de dez anos o que queriam ser quando fossem grandes. As respostas foram curiosas, engraçadas, reveladoras da evolução da sociedade, mas quando perguntei se alguém queria ser professor, as respostas foram: “Nem pensar. Os professores sofrem tanto!” Ficou ali tudo dito. Pequenos sábios. 

Mas apesar disso, eu gosto de ser professora. Na verdade, não gosto de teoria e nem gosto que seja uma coisa imposta, mas que me sejam dadas asas para colocar a minha criatividade a funcionar. Que eu possa fazê-los pensar ‘fora da caixa’. “Xi, lá vem a professora com a caixa outra vez”, dizia uma aluna quando eu pedia à turma algo diferente. Mas ser professora para mim, só faz sentido assim. Faz sentido eu perceber que os alunos sentem que eu gosto deles, interesso-me por eles, ouço-os, ajudo-os, não discrimino, não julgo. Não sou perfeita, mas pretendo continuar a melhorar para, desta forma, continuar a ajudar as crianças e os jovens com quem me cruzo a tornarem-se, se possível, pessoas melhores. A tornarem-se no nosso futuro.

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Mansinho

Mansinho, o gato do meu coração... Agora consigo escrever sobre ti ... 

As lições só nos podem vir de quem está mais próximo. E o Mansinho trouxe-me uma grande lição, ou melhor várias lições. 

Há quase três anos, numa manhã fria de novembro, o Mansinho entrou na minha vida. Eu tinha estado a alimentar os gatos de rua à noite, chuviscava e estava muito frio e ele tinha lá estado; já o conhecia, era manso e atrevido, independente e misterioso. Custava-me muito vê-los aí, a comer à pressa debaixo do carro, cheios de medo e de frio. O Mansinho tinha pedido várias vezes para entrar, mas não o deixei. Nessa noite, quando fechei a porta, ele tinha ficado no limiar da porta.  De manhã, doze horas mais tarde, ainda lá estava, no mesmo sítio. Senti que o Universo me estava a dizer que ele veio para entrar na minha vida. Abri-lhe a porta e entrou. Poucos dias depois ficou doente, as glândulas salivárias estavam aumentadas, ele mastigava, mas não engolia, emagrecia a olhos vistos. Para dar entrada na veterinária era preciso dar-lhe um nome, ficou Mansinho. Foi operado e recuperou bem, felizmente. Era mesmo muito manso e ao contrário dos outros gatos da casa, não procurava os lugares mais confortáveis para dormir. Gostava de variar de sítio, de experimentar as bancadas da oficina, o cesto da roupa, o lavatório, os móveis mais altos, a impressora, e de noite gostava de dormir à porta do meu quarto, como os grandes felinos na Roma antiga que dormiam a porta dos seus tutores. 

Quando lhe pegava ao colo sentia um Amor tão grande que não tinha sentido com nenhum dos outros quatro gatos que me eram próximos.

Há dois anos, o Mansinho tinha desaparecido durante dois dias e eu fiquei tão ansiosa, com o meu karma de apego à flor da pele. Sentia a falta dele como se tivesse desaparecido da face da Terra.

Num dia de maio do ano passado, o Mansinho despareceu sem deixar rasto. Às vezes estava mal-humorado com os gatos companheiros da casa e muitas vezes com os da rua. Quando saiu, num sábado, veio até à porta de entrada como que para se despedir, e depois partiu … Pensei que iria regressar depois da Lua cheia de domingo, mas não voltou ... Procurei-o, chamei-o por todo o bairro, de dia, de noite, nada … Aos poucos percebi que não voltaria… Provavelmente se teria escondido para morrer sossegado como os gatos muitas vezes fazem … Comecei a aceitar a me fragilizar, finalmente chorei, deixei de focar nele, no que tinha feito, para começar a focar em como me sentia, na tristeza enorme que sentia no meu peito. A vida me estava a propor um desapego forçado, já que não tinha conseguido desapegar quando ele ainda estava na minha vida; comecei a me pôr em causa, a entender que ele afinal precisava de mais liberdade, liberdade para se reinventar todos os dias, sem a sombra da minha preocupação de que lhe poderia acontecer alguma coisa … E chorei por não ter conseguido aproveitar de uma forma mais evolutiva o tempo que ele esteve comigo. Passada uma semana escrevi aos meus amigos uma mensagem de homenagem ao Mansinho : << … Foi uma lição que me deu, na vida e na morte : como viver e como morrer com dignidade. Ele, um verdadeiro felino, deixou-se tratar por duas vezes, na doença. Desta vez, provavelmente sentiu que tinha que ir. E foi com a dignidade própria de um felino. Até sempre, Mansinho ! Espera por mim to topo de Arco-íris ! Foste uma prenda do Céu na minha vida ! >> e comecei o meu luto …

Uns dias mais tarde, grande felicidade, apareceu o Mansinho, muito carente de festas, mais magro, esfomeado ... Eu estava muito contente e senti que ele tinha voltado para eu ter a oportunidade de treinar o meu desapego… a vida o tinha trazido de volta para continuar a me ensinar. Comecei a lhe dar mais liberdade …

O tempo passou e parte da lição ficou esquecida… de noite sempre o fechava em casa… Eu, no fundo, sentia que deveria respeitar os pedidos dele, mas o meu ego, a zelar pelo apego disfarçado de proteção, não me deixava … e eu me conformava com o “mais confortável” …  

Este ano, no final da primavera, dois dias antes da Lua cheia de maio, o Mansinho foi para a arvore do pátio, um jacarandá, e ficou a dormir em cima dum ramo grosso todo o dia, olhando para mim enquanto estava a trabalhar. Ao pôr do Sol, quando o chamei para comer, ele apanhou na direção oposta. Ainda fui abrir uma claraboia e quando me sentiu perto, desatou a fugir pelos telhados vizinhos até que o perdi de vista. Senti uma rejeição enorme, que já tinha sentido com pessoas, em tempos. A minha mente procurava incessantemente motivos para o que tinha acontecido, soluções rápidas, pensos rápidos, procurava o que poderia ter levado a este desfecho … Uma procura feita no campo errado … estava nervosa e me sentia injustiçada de o Mansinho me rejeitar assim … Finalmente comecei a cair em mim, na tristeza de as coisas serem assim … Fiz terapia da dor da rejeição, AUTOCURA, mas guardando em pano de fundo a ideia que ele ainda há de voltar, está é “mal comportado”, o que fazia como que eu não me rendesse por completo … Eu sabia que está tudo milimetricamente orquestrado no Céu e estava a limpar dores muito profundas, de vidas passadas de apego e rejeição. Um dia pedi ao Livro de Amor da Alexandra Solnado, uma mensagem. Recebi a mensagem 84, Insulto. Comecei a integrar, a interiorizar que, o que aconteceu não era contra mim, eu não era o centro do Universo e as coisas não giram à volta de mim, mas há um movimento próprio universal e, eu e o Mansinho fazemos parte desse movimento. A minha perspetiva mudou. Conseguia olhar para cima, para o ramo onde o Mansinho tinha estado antes de partir, e ver por trás o Céu. Grande lição, ao encarar a minha dor de apego, o Céu me amparava. Cada vez que atravessava o pátio, dezenas de vezes por dia, olhava para cima e via o ramo e o Céu e comecei a sentir gratidão pela lição - o meu karma de fé estava a ser trabalhado ao mesmo tempo – e sentia a ligação ao Céu cada vez mais forte. Nas meditações de AUTOCURA, no meu Templo, começou a aparecer o Mansinho, em Luz. Primeira vez, fiquei admirada e não lhe liguei. Quando apareceu segunda vez peguei nele e ao peito, como fazia na matéria, e senti profundamente aquele Amor divino, fiz crescer esse Amor e me nutrir, era mágico. Cada vez que ia ao Templo de Cura ele estava lá a assistir e no fim eu pegava-lhe e fazia crescer o Amor. Percebi que a lição era sentir profundamente a vibração do Amor e fazê-la crescer na minha vida. Também fiquei tranquila porque, pensava eu, se vai ao Templo de Cura provavelmente passou e já não está a sofrer. Percebi que o Mansinho veio mesmo para me ajudar a limpar os meus karmas, amorosamente. Ele fez o que tinha de fazer, de acordo com o movimento da Vida, esse fluido energético de sabedoria. Ele escolheu cumprir com a lição, não foi por me rejeitar, mas por Amor por mim. O Céu fez-me entender como foi difícil ir embora. Quando desatou a fugir, ele escolheu cumprir o seu desígnio, se ficasse mais um segundo, já não teria capacidade de seguir. Tinha ficado a me olhar do cimo do ramo todo o dia, a sentir que tinha que fazer a escolha, e cumpriu, fez a escolha mais evolutiva. Percebi, finalmente percebi, como isso foi difícil para ele. E chorei, e me rendi, à Luz.

Três Luas cheias mais tarde, em meados de agosto, o Mansinho voltou. Quase que me tinha esquecido como é bonito … Gratidão Mansinho pelos ensinamentos !

Aprendi que a chave é a aceitação ; aprendi a honrar a minha Alma e a Alma do Mansinho. Agora, de noite, quando é hora de dormir, se ele quiser sair, abro-lhe a porta … Ele tem que viver feliz !

Isso aconteceu comigo, mudou a minha vida, fez-me subir mais uma oitava na espiral evolutiva, e inspirou mais pessoas nas suas relações com humanos.

Bem hajas Mansinho !

PS. Enquanto estou a escrever :



segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Desafios e emoções

Qualquer um de nós enfrenta diariamente desafios, maiores ou menores, mas todos enfrentamos. E desengane-se aquele que pensa que já está suficientemente espiritualizado para deixar que determinadas situações o afetem. Não é verdade. Nós vivemos na Terra e a Terra é um planeta dual, ou seja, existe sempre um lado bom e um lado mau, ou menos bom. Todos somos capazes de boas e de más ações. Por isso, todos temos qualidades e defeitos.

Há dois dias recebi a resposta que aguardava sobre um projeto. Foi positiva, mas quando vi a resposta tive um sentimento neutro. Ele não tinha sido aprovado da forma que eu idealizei. E na minha cabeça começaram a tecer-se considerações sobre a forma como ele se apresentava e surgiram também duvidas sobre as minhas capacidades. Enfim, a minha “cabeça estava a mil”. De tal forma me afetou que estava com vontade de recusar. Depois ponderei, analisei os prós e os contras e decidi aceitar o projeto.

Têm sido dias desafiantes e fui atingida por um turbilhão de emoções. Todos à minha volta me davam os parabéns, mas eu não me sentia feliz. E questionava-me: porque me sentia assim? Afinal, era o que eu tinha pedido!

O facto de estar no meu caminho de autoconhecimento, levou a que olhasse a situação sobre outra perspetiva. Fui ao fundo da questão e deixei vir as verdadeiras emoções, trouxe-as até ao meu peito (ele nunca me mente). Percebi que, na verdade, eu tinha idealizado o projeto de uma determinada forma e estava à espera que ele fosse aprovado tal e qual o que eu queria. O facto de isso não acontecer fez com que eu me sentisse frustrada, sentisse que era desprestigiante para mim, tendo em conta o meu passado e tudo o que já fiz e pensei na imagem que as pessoas iriam ficar de mim. Ou seja, eu estava a dar total controlo ao meu Ego e não à minha Essência e áquilo que eu queria mesmo concretizar. O meu Ego queria continuar a “puxar dos seus galões” e estava a começar a vitimizar-se, coitadinho, porque não tinha conseguido obter uma coisa conforme esperava. Até que, partilhando este sentimento com uma amiga ela me disse: “o que interessa é o COMO e não O QUE” e isso foi mágico. Realmente, ela estava cheia de razão. Então se eu estava a ter a oportunidade de pôr o meu projeto em marcha, porque haveria de me preocupar com O QUE iam pensar de mim ou com O QUE eu fazia! Isso é para o Ego, ele é que precisa disso. O importante é COMO faço, COMO concretizo o projeto, COMO posso ajudar os outros. Isso é o que faz sentido para mim.

Entretanto, hoje já tinha esta questão resolvida na minha cabeça, pensava eu, mas, afinal, tive mais um desafio. Descobri que afinal o projeto seria por um tempo muito limitado. “Meu Deus”, pensei eu, “que partida me pregaste!” Voltei a ficar frustrada. E, desta vez, por ser um curto período de tempo. Lá surgiram as dúvidas interiores e lá voltei a pensar em desistir do projeto. Mas como Jesus tem colocado no meu caminho anjos terrenos, ao falar com uma amiga (outra amiga), voltei a ter a minha resposta: “menos Ego, mais Fé…”, “às vezes são desafios à nossa resiliência”, “a humildade é muito importante no percurso espiritual”, “aprende a aceitar o que parece pouco”, “não sabes os desígnios que te esperam”. E ela estava certa. Eu, afinal, queria mesmo aceitar, independentemente de ser muito ou pouco tempo. Apenas arranjava desculpas para satisfazer o meu Ego.

Todo o caminho é uma aprendizagem e este passo é mais uma folha do meu livro da vida. Que grata estou por ter quem me ajude a confirmar o que sinto. Por ter quem me ajude a manter-me no meu caminho, a cumprir o meu propósito.

Partilho estas emoções para lembrar que a humildade é muito bonita. Não é por já nos considerarmos pessoas iluminadas que vamos começar a receber todas as bênçãos do mundo e tudo o que desejamos. Na verdade, quanto mais manifestarmos para o Universo algo que desejamos, mais ele retribui com o contrário. O Universo é como um espelho, ele dá-te o que está de acordo com a tua essência e não o que anseias ou desejas ter. E é importante lembrarmo-nos sempre que quem quer é o Ego, não é a nossa essência. Ele quer ter poder e quando não o tem, vitimiza-se (pelo menos o meu faz isso). O que o autoconhecimento traz é a capacidade para nos questionarmos sobre a nossa vida, sobre as nossas ações e anseios. Desta forma, já consigo ver não só o lado de fora do copo, mas também ver o lado de dentro. Mas, um passo de cada vez. O caminho faz-se caminhando…

domingo, 11 de setembro de 2022

Criança interior


Com certeza já ouviram falar da ‘Criança Interior’. Eu também. Mas confesso que quando ouvi pela primeira vez o termo, pensei: “Isto não tem a ver comigo. Criança interior? Não, eu já sou crescida o suficiente e tudo o que se passou quando eu era pequena, ficou lá atrás, bem arrumado no meu cérebro. Já não me afeta. O meu presente nada tem a ver com isto.”

Estava enganada. Depois de tantos anos, a minha infância apanhou-me e abriu gavetas que eu nem sabia que continham temas ultrassensíveis e que ainda mexem tanto comigo. Fui descobrindo que muitos dos meus atuais problemas, medos, atitudes, comportamentos, têm a ver com essa infância e com a criança que presenciou e viveu coisas que não sabia a marcariam. Para sempre…

O que vivi afetou as minhas relações interpessoais de diferentes formas, abalou a minha confiança nas pessoas, afetou a minha autoestima, incrementou os meus medos e as minhas inseguranças. Afinal, tenho uma criança interior a precisar de ser resgatada. Pegada no colo. Amada. Afagada. Porque precisa de curar essas mágoas, libertar essas dores e começar a viver uma vida mais plena, desfeita de nós energéticos.

Nunca ninguém julgue que o que nos acontece é fruto do momento, do acaso, das situações, das circunstâncias. Claro que não. Seria uma grande imprudência da nossa parte pensar assim. Se nós somos compostos por átomos e somos energia, tudo o que vivemos nesta e em outras vidas está impregnado nas nossas células e tem impacto naquilo que vivemos atualmente. Nós fomos atraindo tudo isso para a nossa energia. Estamos sempre a somar. Portanto, se a nossa infância foi desafiadora, difícil, sofredora, claro que, esses nós, se não fizermos nada para os tratar, irão nos acompanhar até à nossa vida adulta ou até mesmo para as vidas seguintes. Um nó mais outro nó, dá dois nós e quando vemos temos um novelo tão enrolado que nos sufoca. 

Vamos lá dar colinho à nossa criança interior, desfazer os nós para ver a nossa vida a fluir de forma harmoniosa. Cuidar dela é extremamente importante para que se desenvolva um equilíbrio emocional e uma autoestima sadia.