sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Adoro ser professora


Adoro ser professora. É algo que vem de dentro, da minha alma, da minha essência.

Não partilho da ideia de ‘ensinar’. Para mim, isso é apenas transmitir e eu não ‘ensino’ porque aprendo tanto com eles, todos os dias. Sinto que faço partilha. Sou uma ‘partilhadora’ de conhecimentos. Eu partilho o que sei e eles partilham comigo o que sabem. Assim, sinto-me sempre jovem, atualizada. Sei as tendências da moda, da música, das tecnologias, do calão, do comportamento, é incrível. Às vezes, confundo-me no meio deles e esqueço a minha idade.

Costumo dizer que sou uma orientadora de saberes, uma mentora, uma “descobridora” dos seus talentos. Porque aqui reside a maior dificuldade dos nossos jovens. Eles não precisam de professores. Atualmente esta nova era, estas novas gerações de crianças e jovens sabem exatamente o que querem aprender, o que gostam ou não e não querem fazer frete. Não querem apanhar ‘seca’ e, pequenos ou grandes, eles dizem isso aos professores, não estão com “meias medidas”. Não precisam de professores que lhes digam: “É assim e é assim que tens de aprender ou saber ou fazer, porque eu digo.” Eles não querem isso. Eles questionam. Eles perguntam, “Porquê? Para quê?” Eles sabem o que gostam, mas não sabem é como procurar a informação que pretendem ou, principalmente, onde encontrar informação verdadeira, credível, fidedigna. E quando descobrem o que gostam, não sabem como transformar isso em algo real. Aí está o papel do professor/mentor. Aquele que vai tentar entender a cabeça do seu aluno, os seus interesses e tentar descobrir os seus talentos. Aí entro eu, sim. Aí sinto-me bem. A ajudá-los. A ouvi-los.

Lembro-me dos rostos felizes das crianças e jovens com quem já tive o prazer de partilhar uma sala. Foram bons momentos, muitos deixaram saudades. Criei amigos. Claro que nem tudo foram rosas. Estas têm muitos espinhos. A sociedade queixa-se que as crianças e os jovens estão cada vez mais mal-educados, malcomportados. Em parte, é verdade, sim. Mas é preciso olhar pela perspetiva deles. Tudo à nossa volta evoluiu, tudo. Até a Física Quântica veio provar que somos feitos de energia, constituídos por átomos e que tudo à nossa volta nos afeta emocionalmente e fisicamente.

Já fomos tão longe, mas a educação em Portugal, pelo menos, no plano da escolaridade obrigatória tem um longo caminho a percorrer, muito longo mesmo. E começa na coisa mais básica que é a planta das salas de aula. Mais de 60 anos depois continuamos a ter ‘autocarros’ nas salas de aula, giz, mesas e cadeiras pequenas tendo os alunos que se sentar com as pernas do lado de fora da secretária. As escolas que felizmente têm computadores, estão todos obsoletos: ou não trabalham ou são muito lentos. Nem comportam os suportes de dados que temos hoje. Temos uma gigantesca ‘bola de neve’ por resolver que passa por ninguém querer ser professor porque os que ainda resistem estão cansados, envelhecidos e querem, merecidamente, ir para a reforma e os novos sabem as tormentas da classe e nem tentam enveredar por ela. Fogem.

Hoje perguntei a uma turma de meninos de dez anos o que queriam ser quando fossem grandes. As respostas foram curiosas, engraçadas, reveladoras da evolução da sociedade, mas quando perguntei se alguém queria ser professor, as respostas foram: “Nem pensar. Os professores sofrem tanto!” Ficou ali tudo dito. Pequenos sábios. 

Mas apesar disso, eu gosto de ser professora. Na verdade, não gosto de teoria e nem gosto que seja uma coisa imposta, mas que me sejam dadas asas para colocar a minha criatividade a funcionar. Que eu possa fazê-los pensar ‘fora da caixa’. “Xi, lá vem a professora com a caixa outra vez”, dizia uma aluna quando eu pedia à turma algo diferente. Mas ser professora para mim, só faz sentido assim. Faz sentido eu perceber que os alunos sentem que eu gosto deles, interesso-me por eles, ouço-os, ajudo-os, não discrimino, não julgo. Não sou perfeita, mas pretendo continuar a melhorar para, desta forma, continuar a ajudar as crianças e os jovens com quem me cruzo a tornarem-se, se possível, pessoas melhores. A tornarem-se no nosso futuro.

2 comentários:

  1. Muitos parabéns Carla. Aqui está uma excelente REFLEXÃO sobre este tema tão atual e tão importante. Embora não sendo professora, tive grande experiência profissional na Saúde Escolar.
    Conheço e compreendo muito bem os problemas existentes nas escolas. Para além do problema das instalações e material didático, existe uma deficiente atualização ao nível da formação base dos professores, e no decorrer da atividade profissional, de modo a dar resposta aos interesse dos novos alunos. Gratidão por esta reflexão.
    Desejo que tenha bastante audiência e que possa incentivar mais adeptos para promover as a mudanças necessárias. Abraço de LUZ.

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  2. Grande oportunidade de promover AUTOCURA.. muitas bênçãos.

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