terça-feira, 11 de outubro de 2022

Asas


Sinto as minhas asas a nascer.
Em maio passado senti dores horríveis nas costas. Parecia que um objeto cortante as perfurava, no sítio das omoplatas. Ai, tanta dor. Os sintomas do mundo físico indicaram que eu estava com COVID, mas eu sentia que era uma transformação espiritual que se estava a processar em mim. Na minha intuição, eu via asas que queriam sair das minhas costas. Eu sentia que o meu corpo físico estava a mudar e a nível espiritual eu sentia a mudança. Não me perguntem como, há coisas que sentimos, sem ser necessário ver. 
Não me conseguia zangar por estar doente, eu sabia que iria ficar bem, eu tinha uma confiança interior muito forte que era uma fase passageira e que eu precisava de passar por ela. “Era preciso”, dizia-me uma voz interior. “É preciso que assim seja”. E eu aceitei. Entreguei ao céu e confiei. Algo que aprendi a fazer. E é mágico. Pois eu aprendi que o que tiver que ser, será.

Desde essa altura, sinto que estou diferente. É como se um manto negro tivesse saído de cima de mim e voasse para longe. Agora, a vida faz mais sentido. Já não me zango tanto. Não me tornei santa, não, mas passei a entender melhor o propósito de estarmos aqui neste planeta. Tudo faz mais sentido: o passado e o presente. Sinto maior leveza em mim, sinto-me pacificada e tento trazer mais a luz aos outros.

Isto é um caminho e não um fim em si mesmo. Por isso digo que sinto as minhas asas a nascer. Para mim, as asas são sinónimo de leveza, da forma como quero encarar a vida terrena. Quero voar para o alto, passear pelo Universo, estar com anjos e seres de luz. E quando tiver que voltar, guardo as asas e caminho pelas paisagens lindas do nosso planeta, alegro-me sempre que puder, fico triste se assim tiver que ser, porque é essa a nossa missão aqui: experienciar emoções boas e menos boas. É essa a maior riqueza deste planeta: a dualidade. Aqui podemos vivenciar uma emoção e o seu contrário. O modo como as encaramos é que torna tudo tão especial. Podemos ter asas ou não. A escolha é nossa!

domingo, 9 de outubro de 2022

Manhãs no campo

     (foto do nascer do dia)

Pelo caminho de manhã
Bebo as cores da paisagem.
As retas levam aos campos pintalgados de árvores
Que ainda apresentam os tons de verão.
Aqui e além o panorama campestre
Vai ficando matizado de casas brancas e amarelas.
O sol, ainda baixo, bate nos olhos
Pestanejando de sonhos
A esperança de um novo dia.
As nuvens embora raras
São carneirinhos realçando o céu.
O horizonte parece uma tela pintada de
Laranja, salmão e rosa
Que se junta à paleta de azuis
Uma mistura da noite com o nascer do dia.
As vinhas ganharam cor e os homens juntam-se a elas
Descendentes de Baco cuidando da colheita do néctar divino. 
No Ribatejo é a harmonia com a natureza que torna tudo tão especial.

terça-feira, 4 de outubro de 2022

Tagarelices e julgamentos



Esta tarde três senhoras de idade sentadas no banco do jardim conversavam. Uma falava, as outras ouviam. Foi uma hora assim. Uma falava, as outras ouviam. Os meus ouvidos latejavam de tanta tagarelice.

Estava à procura de um local para refletir em silêncio e o banco do jardim parecia convidativo. Vinha com intenção de me inspirar e escrever. E afinal consegui. Não propriamente sobre coisas belas e bonitas como esperava, mas a inspiração veio.

A senhora faladora contava histórias de tempos passados. Seria interessante ouvir, se não fosse o caso de que tudo o que dizia era julgamento acerca dos outros, daqueles que passavam.

Eu não quero, também eu, julgar a senhora (não a conheço), mas sem querer julgá-la, inevitavelmente, lá vou julgando. Faço um esforço e dou por mim a tentar analisar o que ela diz para que não pareça julgamento.

Apercebi-me que uma das três senhoras era freira, porque todos os jovens que passavam a cumprimentavam. Essa era a mais calada de todas.

A certa altura, a freira, pegou na sua bengala, levantou-se devagar e não sei se se fartou de tanto julgamento, disse que tinha de ir porque não podia estar muito tempo sentada. Passou por mim e sorriu com um ar sincero. Sorri de volta.

As outras duas senhoras continuaram na sua conversa opinativa sobre todos os que passavam.

Passou um senhor invisual e a senhora faladora contou a história de uma “cega preta” que acolheu em sua casa há uns anos e que era uma “chata” que queria fazer dela a sua “criada”, acabando por ter de “a despachar” dando a desculpa que precisava do quarto para o filho.

Depois passou uma moça com cerca de vinte anos. A moça olhou para elas, estas pararam de falar, cumprimentaram-na. Quando ela se afastou a senhora mais tagarela disse à outra: “Ai, esta menina quando era bebezinha era tão bonitinha, mas depois cresceu e fez-se tão feia, coitadinha. É a cara do pai, coitadinha”.

Fiquei sem palavras. E ri. A sério! Comecei a rir sem conseguir esconder. Se, no início, me senti incomodada com a conversa, no final, acabei por achar engraçado os seus comentários pois, por um lado, acabaram por me arrancar risadas espontâneas e, por outro lado, foram a minha fonte de inspiração para a escrita.

Que terão elas pensado ou dito de mim? Uma mulher aparece de repente com um caderno na mão e começa a escrever como se as linhas estivessem a fugir. Lá diz o povo: “Nas costas dos outros, vejo as minhas”.

Foram momentos verdadeiramente burlescos. A tarde estava amena, o banco chamava-me e eu estava com tempo para escrever. Não sabia sobre quê, mas o tema surgiu por si. Era a junção perfeita.

Conversas como estas são frequentes entre pessoas de idade e fizeram-me constatar que o ser humano ainda julga muito os outros. Olhamos tanto para os problemas e defeitos dos outros que nos esquecemos de ver o que está mal em nós próprios. Esquecemos que todos somos imperfeitos. São estes sentimentos que não nos acrescentam valor nem deixam que a nossa essência se manifeste. São estes sentimentos que temos de superar. Para algumas pessoas, como os idosos, pode ser tarde para mudar, mas todas as gerações mais novas ainda estão a tempo de o fazer. Todos, nos devemos comprometer em subir a nossa vibração para sentimentos mais elevados de paz, harmonia, compaixão, empatia, solidariedade e amor.

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Adoro ser professora


Adoro ser professora. É algo que vem de dentro, da minha alma, da minha essência.

Não partilho da ideia de ‘ensinar’. Para mim, isso é apenas transmitir e eu não ‘ensino’ porque aprendo tanto com eles, todos os dias. Sinto que faço partilha. Sou uma ‘partilhadora’ de conhecimentos. Eu partilho o que sei e eles partilham comigo o que sabem. Assim, sinto-me sempre jovem, atualizada. Sei as tendências da moda, da música, das tecnologias, do calão, do comportamento, é incrível. Às vezes, confundo-me no meio deles e esqueço a minha idade.

Costumo dizer que sou uma orientadora de saberes, uma mentora, uma “descobridora” dos seus talentos. Porque aqui reside a maior dificuldade dos nossos jovens. Eles não precisam de professores. Atualmente esta nova era, estas novas gerações de crianças e jovens sabem exatamente o que querem aprender, o que gostam ou não e não querem fazer frete. Não querem apanhar ‘seca’ e, pequenos ou grandes, eles dizem isso aos professores, não estão com “meias medidas”. Não precisam de professores que lhes digam: “É assim e é assim que tens de aprender ou saber ou fazer, porque eu digo.” Eles não querem isso. Eles questionam. Eles perguntam, “Porquê? Para quê?” Eles sabem o que gostam, mas não sabem é como procurar a informação que pretendem ou, principalmente, onde encontrar informação verdadeira, credível, fidedigna. E quando descobrem o que gostam, não sabem como transformar isso em algo real. Aí está o papel do professor/mentor. Aquele que vai tentar entender a cabeça do seu aluno, os seus interesses e tentar descobrir os seus talentos. Aí entro eu, sim. Aí sinto-me bem. A ajudá-los. A ouvi-los.

Lembro-me dos rostos felizes das crianças e jovens com quem já tive o prazer de partilhar uma sala. Foram bons momentos, muitos deixaram saudades. Criei amigos. Claro que nem tudo foram rosas. Estas têm muitos espinhos. A sociedade queixa-se que as crianças e os jovens estão cada vez mais mal-educados, malcomportados. Em parte, é verdade, sim. Mas é preciso olhar pela perspetiva deles. Tudo à nossa volta evoluiu, tudo. Até a Física Quântica veio provar que somos feitos de energia, constituídos por átomos e que tudo à nossa volta nos afeta emocionalmente e fisicamente.

Já fomos tão longe, mas a educação em Portugal, pelo menos, no plano da escolaridade obrigatória tem um longo caminho a percorrer, muito longo mesmo. E começa na coisa mais básica que é a planta das salas de aula. Mais de 60 anos depois continuamos a ter ‘autocarros’ nas salas de aula, giz, mesas e cadeiras pequenas tendo os alunos que se sentar com as pernas do lado de fora da secretária. As escolas que felizmente têm computadores, estão todos obsoletos: ou não trabalham ou são muito lentos. Nem comportam os suportes de dados que temos hoje. Temos uma gigantesca ‘bola de neve’ por resolver que passa por ninguém querer ser professor porque os que ainda resistem estão cansados, envelhecidos e querem, merecidamente, ir para a reforma e os novos sabem as tormentas da classe e nem tentam enveredar por ela. Fogem.

Hoje perguntei a uma turma de meninos de dez anos o que queriam ser quando fossem grandes. As respostas foram curiosas, engraçadas, reveladoras da evolução da sociedade, mas quando perguntei se alguém queria ser professor, as respostas foram: “Nem pensar. Os professores sofrem tanto!” Ficou ali tudo dito. Pequenos sábios. 

Mas apesar disso, eu gosto de ser professora. Na verdade, não gosto de teoria e nem gosto que seja uma coisa imposta, mas que me sejam dadas asas para colocar a minha criatividade a funcionar. Que eu possa fazê-los pensar ‘fora da caixa’. “Xi, lá vem a professora com a caixa outra vez”, dizia uma aluna quando eu pedia à turma algo diferente. Mas ser professora para mim, só faz sentido assim. Faz sentido eu perceber que os alunos sentem que eu gosto deles, interesso-me por eles, ouço-os, ajudo-os, não discrimino, não julgo. Não sou perfeita, mas pretendo continuar a melhorar para, desta forma, continuar a ajudar as crianças e os jovens com quem me cruzo a tornarem-se, se possível, pessoas melhores. A tornarem-se no nosso futuro.

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Mansinho

Mansinho, o gato do meu coração... Agora consigo escrever sobre ti ... 

As lições só nos podem vir de quem está mais próximo. E o Mansinho trouxe-me uma grande lição, ou melhor várias lições. 

Há quase três anos, numa manhã fria de novembro, o Mansinho entrou na minha vida. Eu tinha estado a alimentar os gatos de rua à noite, chuviscava e estava muito frio e ele tinha lá estado; já o conhecia, era manso e atrevido, independente e misterioso. Custava-me muito vê-los aí, a comer à pressa debaixo do carro, cheios de medo e de frio. O Mansinho tinha pedido várias vezes para entrar, mas não o deixei. Nessa noite, quando fechei a porta, ele tinha ficado no limiar da porta.  De manhã, doze horas mais tarde, ainda lá estava, no mesmo sítio. Senti que o Universo me estava a dizer que ele veio para entrar na minha vida. Abri-lhe a porta e entrou. Poucos dias depois ficou doente, as glândulas salivárias estavam aumentadas, ele mastigava, mas não engolia, emagrecia a olhos vistos. Para dar entrada na veterinária era preciso dar-lhe um nome, ficou Mansinho. Foi operado e recuperou bem, felizmente. Era mesmo muito manso e ao contrário dos outros gatos da casa, não procurava os lugares mais confortáveis para dormir. Gostava de variar de sítio, de experimentar as bancadas da oficina, o cesto da roupa, o lavatório, os móveis mais altos, a impressora, e de noite gostava de dormir à porta do meu quarto, como os grandes felinos na Roma antiga que dormiam a porta dos seus tutores. 

Quando lhe pegava ao colo sentia um Amor tão grande que não tinha sentido com nenhum dos outros quatro gatos que me eram próximos.

Há dois anos, o Mansinho tinha desaparecido durante dois dias e eu fiquei tão ansiosa, com o meu karma de apego à flor da pele. Sentia a falta dele como se tivesse desaparecido da face da Terra.

Num dia de maio do ano passado, o Mansinho despareceu sem deixar rasto. Às vezes estava mal-humorado com os gatos companheiros da casa e muitas vezes com os da rua. Quando saiu, num sábado, veio até à porta de entrada como que para se despedir, e depois partiu … Pensei que iria regressar depois da Lua cheia de domingo, mas não voltou ... Procurei-o, chamei-o por todo o bairro, de dia, de noite, nada … Aos poucos percebi que não voltaria… Provavelmente se teria escondido para morrer sossegado como os gatos muitas vezes fazem … Comecei a aceitar a me fragilizar, finalmente chorei, deixei de focar nele, no que tinha feito, para começar a focar em como me sentia, na tristeza enorme que sentia no meu peito. A vida me estava a propor um desapego forçado, já que não tinha conseguido desapegar quando ele ainda estava na minha vida; comecei a me pôr em causa, a entender que ele afinal precisava de mais liberdade, liberdade para se reinventar todos os dias, sem a sombra da minha preocupação de que lhe poderia acontecer alguma coisa … E chorei por não ter conseguido aproveitar de uma forma mais evolutiva o tempo que ele esteve comigo. Passada uma semana escrevi aos meus amigos uma mensagem de homenagem ao Mansinho : << … Foi uma lição que me deu, na vida e na morte : como viver e como morrer com dignidade. Ele, um verdadeiro felino, deixou-se tratar por duas vezes, na doença. Desta vez, provavelmente sentiu que tinha que ir. E foi com a dignidade própria de um felino. Até sempre, Mansinho ! Espera por mim to topo de Arco-íris ! Foste uma prenda do Céu na minha vida ! >> e comecei o meu luto …

Uns dias mais tarde, grande felicidade, apareceu o Mansinho, muito carente de festas, mais magro, esfomeado ... Eu estava muito contente e senti que ele tinha voltado para eu ter a oportunidade de treinar o meu desapego… a vida o tinha trazido de volta para continuar a me ensinar. Comecei a lhe dar mais liberdade …

O tempo passou e parte da lição ficou esquecida… de noite sempre o fechava em casa… Eu, no fundo, sentia que deveria respeitar os pedidos dele, mas o meu ego, a zelar pelo apego disfarçado de proteção, não me deixava … e eu me conformava com o “mais confortável” …  

Este ano, no final da primavera, dois dias antes da Lua cheia de maio, o Mansinho foi para a arvore do pátio, um jacarandá, e ficou a dormir em cima dum ramo grosso todo o dia, olhando para mim enquanto estava a trabalhar. Ao pôr do Sol, quando o chamei para comer, ele apanhou na direção oposta. Ainda fui abrir uma claraboia e quando me sentiu perto, desatou a fugir pelos telhados vizinhos até que o perdi de vista. Senti uma rejeição enorme, que já tinha sentido com pessoas, em tempos. A minha mente procurava incessantemente motivos para o que tinha acontecido, soluções rápidas, pensos rápidos, procurava o que poderia ter levado a este desfecho … Uma procura feita no campo errado … estava nervosa e me sentia injustiçada de o Mansinho me rejeitar assim … Finalmente comecei a cair em mim, na tristeza de as coisas serem assim … Fiz terapia da dor da rejeição, AUTOCURA, mas guardando em pano de fundo a ideia que ele ainda há de voltar, está é “mal comportado”, o que fazia como que eu não me rendesse por completo … Eu sabia que está tudo milimetricamente orquestrado no Céu e estava a limpar dores muito profundas, de vidas passadas de apego e rejeição. Um dia pedi ao Livro de Amor da Alexandra Solnado, uma mensagem. Recebi a mensagem 84, Insulto. Comecei a integrar, a interiorizar que, o que aconteceu não era contra mim, eu não era o centro do Universo e as coisas não giram à volta de mim, mas há um movimento próprio universal e, eu e o Mansinho fazemos parte desse movimento. A minha perspetiva mudou. Conseguia olhar para cima, para o ramo onde o Mansinho tinha estado antes de partir, e ver por trás o Céu. Grande lição, ao encarar a minha dor de apego, o Céu me amparava. Cada vez que atravessava o pátio, dezenas de vezes por dia, olhava para cima e via o ramo e o Céu e comecei a sentir gratidão pela lição - o meu karma de fé estava a ser trabalhado ao mesmo tempo – e sentia a ligação ao Céu cada vez mais forte. Nas meditações de AUTOCURA, no meu Templo, começou a aparecer o Mansinho, em Luz. Primeira vez, fiquei admirada e não lhe liguei. Quando apareceu segunda vez peguei nele e ao peito, como fazia na matéria, e senti profundamente aquele Amor divino, fiz crescer esse Amor e me nutrir, era mágico. Cada vez que ia ao Templo de Cura ele estava lá a assistir e no fim eu pegava-lhe e fazia crescer o Amor. Percebi que a lição era sentir profundamente a vibração do Amor e fazê-la crescer na minha vida. Também fiquei tranquila porque, pensava eu, se vai ao Templo de Cura provavelmente passou e já não está a sofrer. Percebi que o Mansinho veio mesmo para me ajudar a limpar os meus karmas, amorosamente. Ele fez o que tinha de fazer, de acordo com o movimento da Vida, esse fluido energético de sabedoria. Ele escolheu cumprir com a lição, não foi por me rejeitar, mas por Amor por mim. O Céu fez-me entender como foi difícil ir embora. Quando desatou a fugir, ele escolheu cumprir o seu desígnio, se ficasse mais um segundo, já não teria capacidade de seguir. Tinha ficado a me olhar do cimo do ramo todo o dia, a sentir que tinha que fazer a escolha, e cumpriu, fez a escolha mais evolutiva. Percebi, finalmente percebi, como isso foi difícil para ele. E chorei, e me rendi, à Luz.

Três Luas cheias mais tarde, em meados de agosto, o Mansinho voltou. Quase que me tinha esquecido como é bonito … Gratidão Mansinho pelos ensinamentos !

Aprendi que a chave é a aceitação ; aprendi a honrar a minha Alma e a Alma do Mansinho. Agora, de noite, quando é hora de dormir, se ele quiser sair, abro-lhe a porta … Ele tem que viver feliz !

Isso aconteceu comigo, mudou a minha vida, fez-me subir mais uma oitava na espiral evolutiva, e inspirou mais pessoas nas suas relações com humanos.

Bem hajas Mansinho !

PS. Enquanto estou a escrever :



segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Desafios e emoções

Qualquer um de nós enfrenta diariamente desafios, maiores ou menores, mas todos enfrentamos. E desengane-se aquele que pensa que já está suficientemente espiritualizado para deixar que determinadas situações o afetem. Não é verdade. Nós vivemos na Terra e a Terra é um planeta dual, ou seja, existe sempre um lado bom e um lado mau, ou menos bom. Todos somos capazes de boas e de más ações. Por isso, todos temos qualidades e defeitos.

Há dois dias recebi a resposta que aguardava sobre um projeto. Foi positiva, mas quando vi a resposta tive um sentimento neutro. Ele não tinha sido aprovado da forma que eu idealizei. E na minha cabeça começaram a tecer-se considerações sobre a forma como ele se apresentava e surgiram também duvidas sobre as minhas capacidades. Enfim, a minha “cabeça estava a mil”. De tal forma me afetou que estava com vontade de recusar. Depois ponderei, analisei os prós e os contras e decidi aceitar o projeto.

Têm sido dias desafiantes e fui atingida por um turbilhão de emoções. Todos à minha volta me davam os parabéns, mas eu não me sentia feliz. E questionava-me: porque me sentia assim? Afinal, era o que eu tinha pedido!

O facto de estar no meu caminho de autoconhecimento, levou a que olhasse a situação sobre outra perspetiva. Fui ao fundo da questão e deixei vir as verdadeiras emoções, trouxe-as até ao meu peito (ele nunca me mente). Percebi que, na verdade, eu tinha idealizado o projeto de uma determinada forma e estava à espera que ele fosse aprovado tal e qual o que eu queria. O facto de isso não acontecer fez com que eu me sentisse frustrada, sentisse que era desprestigiante para mim, tendo em conta o meu passado e tudo o que já fiz e pensei na imagem que as pessoas iriam ficar de mim. Ou seja, eu estava a dar total controlo ao meu Ego e não à minha Essência e áquilo que eu queria mesmo concretizar. O meu Ego queria continuar a “puxar dos seus galões” e estava a começar a vitimizar-se, coitadinho, porque não tinha conseguido obter uma coisa conforme esperava. Até que, partilhando este sentimento com uma amiga ela me disse: “o que interessa é o COMO e não O QUE” e isso foi mágico. Realmente, ela estava cheia de razão. Então se eu estava a ter a oportunidade de pôr o meu projeto em marcha, porque haveria de me preocupar com O QUE iam pensar de mim ou com O QUE eu fazia! Isso é para o Ego, ele é que precisa disso. O importante é COMO faço, COMO concretizo o projeto, COMO posso ajudar os outros. Isso é o que faz sentido para mim.

Entretanto, hoje já tinha esta questão resolvida na minha cabeça, pensava eu, mas, afinal, tive mais um desafio. Descobri que afinal o projeto seria por um tempo muito limitado. “Meu Deus”, pensei eu, “que partida me pregaste!” Voltei a ficar frustrada. E, desta vez, por ser um curto período de tempo. Lá surgiram as dúvidas interiores e lá voltei a pensar em desistir do projeto. Mas como Jesus tem colocado no meu caminho anjos terrenos, ao falar com uma amiga (outra amiga), voltei a ter a minha resposta: “menos Ego, mais Fé…”, “às vezes são desafios à nossa resiliência”, “a humildade é muito importante no percurso espiritual”, “aprende a aceitar o que parece pouco”, “não sabes os desígnios que te esperam”. E ela estava certa. Eu, afinal, queria mesmo aceitar, independentemente de ser muito ou pouco tempo. Apenas arranjava desculpas para satisfazer o meu Ego.

Todo o caminho é uma aprendizagem e este passo é mais uma folha do meu livro da vida. Que grata estou por ter quem me ajude a confirmar o que sinto. Por ter quem me ajude a manter-me no meu caminho, a cumprir o meu propósito.

Partilho estas emoções para lembrar que a humildade é muito bonita. Não é por já nos considerarmos pessoas iluminadas que vamos começar a receber todas as bênçãos do mundo e tudo o que desejamos. Na verdade, quanto mais manifestarmos para o Universo algo que desejamos, mais ele retribui com o contrário. O Universo é como um espelho, ele dá-te o que está de acordo com a tua essência e não o que anseias ou desejas ter. E é importante lembrarmo-nos sempre que quem quer é o Ego, não é a nossa essência. Ele quer ter poder e quando não o tem, vitimiza-se (pelo menos o meu faz isso). O que o autoconhecimento traz é a capacidade para nos questionarmos sobre a nossa vida, sobre as nossas ações e anseios. Desta forma, já consigo ver não só o lado de fora do copo, mas também ver o lado de dentro. Mas, um passo de cada vez. O caminho faz-se caminhando…

domingo, 11 de setembro de 2022

Criança interior


Com certeza já ouviram falar da ‘Criança Interior’. Eu também. Mas confesso que quando ouvi pela primeira vez o termo, pensei: “Isto não tem a ver comigo. Criança interior? Não, eu já sou crescida o suficiente e tudo o que se passou quando eu era pequena, ficou lá atrás, bem arrumado no meu cérebro. Já não me afeta. O meu presente nada tem a ver com isto.”

Estava enganada. Depois de tantos anos, a minha infância apanhou-me e abriu gavetas que eu nem sabia que continham temas ultrassensíveis e que ainda mexem tanto comigo. Fui descobrindo que muitos dos meus atuais problemas, medos, atitudes, comportamentos, têm a ver com essa infância e com a criança que presenciou e viveu coisas que não sabia a marcariam. Para sempre…

O que vivi afetou as minhas relações interpessoais de diferentes formas, abalou a minha confiança nas pessoas, afetou a minha autoestima, incrementou os meus medos e as minhas inseguranças. Afinal, tenho uma criança interior a precisar de ser resgatada. Pegada no colo. Amada. Afagada. Porque precisa de curar essas mágoas, libertar essas dores e começar a viver uma vida mais plena, desfeita de nós energéticos.

Nunca ninguém julgue que o que nos acontece é fruto do momento, do acaso, das situações, das circunstâncias. Claro que não. Seria uma grande imprudência da nossa parte pensar assim. Se nós somos compostos por átomos e somos energia, tudo o que vivemos nesta e em outras vidas está impregnado nas nossas células e tem impacto naquilo que vivemos atualmente. Nós fomos atraindo tudo isso para a nossa energia. Estamos sempre a somar. Portanto, se a nossa infância foi desafiadora, difícil, sofredora, claro que, esses nós, se não fizermos nada para os tratar, irão nos acompanhar até à nossa vida adulta ou até mesmo para as vidas seguintes. Um nó mais outro nó, dá dois nós e quando vemos temos um novelo tão enrolado que nos sufoca. 

Vamos lá dar colinho à nossa criança interior, desfazer os nós para ver a nossa vida a fluir de forma harmoniosa. Cuidar dela é extremamente importante para que se desenvolva um equilíbrio emocional e uma autoestima sadia.

sábado, 10 de setembro de 2022

O rebanho

O despertador toca. Detesto, quando o despertador toca. Bato-lhe com a mão, de forma desorientada, sem olhar, até que se cale. Finalmente, consegui silenciá-lo. Mas ainda tenho uns minutos, viro-me e fico. Novamente, sou invadida por aquele barulho ensurdecedor que mais parece uma sirene de fábrica. Bolas! Outra vez? Mas eu já não o tinha desligado? Ai, ai. Eu já o tinha desligado, mesmo! Que horas serão? Dou um salto na cama e olho para o relógio. Ai, meu Deus, estou tão atrasada. Como é possível eu ter adormecido! Vou ter que apanhar o segundo comboio. Já perdi um!

Vou a correr para o duche que mal tem tempo de me molhar, de tão atrasada que estou. Visto as primeiras calças que me aparecem no armário, uma qualquer camisola quente, calço as minhas botas, visto o sobretudo, pego na mala, nas chaves e saio a correr de casa. Xi, nem me penteei. Passo as mãos pelo cabelo. Pode ser que não se note, é comprido! E corro. Nem tenho tempo para comer. Bem, quando chegar à estação, eu como. E corro. A pé ainda demoro uns dez minutos até chegar. Tem lá um supermercado e enquanto espero pelo comboio, tenho tempo de tomar o pequeno-almoço. E corro.

Cheguei. Suada de correr e caminhar apressadamente, mas cheguei. Oh, o supermercado está fechado! Porquê? E agora? Ainda faltam dez minutos para a partida e é uma viagem de trinta minutos. Agora que alternativa tenho, senão esperar. Sentada na paragem num banco de cimento frio e de paredes imundas, penso no meu dia que começa: Que dia! Mal começou e já estou ensonada, cansada, suada e cheia de fome e nem me penteei! Tem uma graça!

Será que é isto a vida normal de um trabalhador? Para sempre? Até ao final da sua carreira?

Ah, e corro um risco enorme de chegar atrasada! Se o comboio se atrasar (o que é normal)… Ora, vamos lá fazer o resumo: ao chegar à empresa, à qual poderei chegar tarde, terei de ir logo à casa de banho para mudar de roupa para não estar suada perto dos meus colegas (ainda bem que tenho sempre uma peça de roupa na empresa), mas primeiro tenho de pedir amavelmente ao senhor do bar para me preparar às escondidas o pequeno-almoço que terei de tomar na casa de banho para ninguém se aperceber. Ui, se o patrão visse!!

Uau! Este é o meu sonho de vida. Fazer isto todos os dias. Lá por volta dos trinta dá-me um ataque cardíaco e, pronto, tudo se acaba.

Finalmente chega o comboio. Vem apinhado de gente. Outra boa notícia. Tenho de ir de pé toda a viagem e coladinha a alguém. De manhã, cheiramos os patcholis todos uns dos outros. Que bom! E lá vamos nós todos, seres zombies, acabadinhos de sair à pressa das nossas camas, para nos dirigirmos todos para algum sitio. Perdida nestes pensamentos tenebrosos, noto que chegámos à estação principal. Agora, tal como nos outros dias, vamos sair todos do comboio e vamos todos para outra plataforma. Ainda temos mais um comboio para apanhar, até ao centro da cidade. São mais quinze minutos. Começamos a descer a escada que nos leva à passagem inferior, eu olho para aquele ‘mar de gente’, todos a caminhar na mesma direção… A meio da passagem paro…

Mas o que faço eu aqui? Parecemos um rebanho de carneiros. Todos a seguir um comando invisível, sem questionar porque têm de ir por ali! Parecemos robots. EU NÃO QUERO ISTO PARA MIM. A VIDA TEM DE SER MAIS QUE ISTO. E grito, muito forte, muito alto, mas ninguém ouve. É a minha alma a gritar. Não saem sons da minha boca, apenas sinto dor no meu peito. Um aperto enorme.

Sou abalroada. Passam todos por mim. Não é suposto nenhum dos “carneiros” parar e eu parei. Sou insultada. Sou empurrada. Porque parei? Estou maluca? Estou a cortar o fluxo, vão comentando. Por fim, eu penso: Não posso, penso eu. Não posso. Não quero mais. E começo a recuar. Começo a chorar enquanto recuo. Encontro a escada e sento-me num degrau a chorar. Já a multidão tinha terminado. Olho para cima e penso: 

Meu Deus, é isto que me está destinado? É isto que vim fazer ao mundo? Desculpa, mas eu não acredito! Tudo o que eu passei, resume-se a isto? Para sempre? Não pode ser. Eu pensava que tinha um propósito. Pensava que tinha uma missão. Eu pensava que vinha fazer a diferença. Tu disseste-me, quando eu era pequena. Mas afinal estou a fazer exatamente o mesmo há seis anos e todas estas pessoas fazem exatamente o mesmo há, não sei, quanto tempo. Isto não faz sentido! Eu quero fazer diferente. Elas não se questionam? Será que eu sou a única a pensar assim?


Eu tinha cerca de vinte e oito anos quando aconteceu este episódio. Mudei de emprego pouco tempo depois, apesar de estar estável. Desde essa altura, passaram mais de vinte anos. Tive muitos momentos na minha vida em que tive estes “ataques existenciais” e sentia-me presa com amarras a situações que não se identificavam comigo e senti a minha alma gritar muitas vezes. Ela sentia-se presa e dizia: “Tira-me daqui”. Sempre que me foi possível, eu tirei-a. Mudei de emprego muitas vezes, errei muitas vezes, sempre na busca, sempre a procurar algo com o qual a minha alma e eu nos identificássemos e nos sentíssemos uma só.

Agora entendo muito mais sobre a vida do que naquela altura. O ser humano quando não sabe para onde vai, imita, faz igual ao outro. Mais que não seja para não se sentir perdido no meio da solidão da multidão. E isso a mim sempre me fez confusão. Eu queria fazer diferente. Nem sempre fui entendida, talvez muitas vezes mesmo, não o tenha sido. Mas agora entendo que sempre estive certa. Eu procurei, mesmo errando, eu fui buscando.

Agora que iniciei um caminho de autoconhecimento mais espiritualizado, sinto que finalmente estou a trilhar o caminho certo. Vou recebendo bênçãos divinas e tenho a validação que sigo bem. Mesmo assim, nós não temos a visão completa. Apenas um vislumbre desse caminho. Conforme me disse ontem um ser iluminado que amo muito: “Vocês não sabem nada”. Muito grata, meu pai.

quinta-feira, 8 de setembro de 2022

A encosta

Corro pela encosta…leve, alegre, saltitante. Roço as minhas mãos pelas flores e corro. Por cima de mim tenho um céu azul lindo, com nuvens, mas sempre lindo. Aqui em baixo, tenho flores à minha volta. Parecem girassóis, mas com pétalas brancas e são amarelos no centro.

Sou menina ainda. Corro descalça, com um lenço meio encardido na cabeça e um vestido comprido em tons de azul, mas de aspeto pobre. Ao fundo, lá em baixo, vejo um rio e eu corro na direção dele. Não tenho medo, sei que o consigo atravessar. Já o fiz centenas de vezes. Isso dá-me liberdade. Agora já estou a chegar àquela casa. Branca, grande. Entrei na cozinha, também ela grande. Está agitada, que azáfama! Estão a cozinhar. Uns entram outros saem, todos desempenhando tarefas de forma apressada. Procuro escapar dali, mas fui notada.

Agora estou a descascar batatas e cenouras. Foi aquela senhora anafada. Puxou-me e deu-me um utensilio cortante, uma espécie de faca. Não gosto, tento fazer aquilo o mais rápido possível. Eu gosto é de andar a contemplar a natureza. E começo a divagar enquanto corto os alimentos. Os meus pensamentos vão para longe. Lá para fora. Para a encosta e para as flores. Para o rio… Mas… sou sacudida, deixei cair um alimento ao chão. Tenho de ter atenção ao que faço. Sinto que é aquilo que tenho de fazer, é algo imposto. Um trabalho. Quero ser alimentada, tenho de trabalhar.

Subitamente, alguém entra na cozinha por uma das portas vinda da casa. A senhora gorda, esconde-me atrás dela, largo tudo e manda-me fugir pela porta que leva ao exterior. Eu fico feliz. Não percebi, mas fiquei feliz. Afinal, lá vou eu, correndo em direção à minha encosta de flores. Ao meu lado, lá no alto fica o castelo. Não percebo se já lá estive. Mas, não é importante. Quero a minha encosta. Primeiro passo o rio…Que água tão cristalina, tão fresca! Aproveito para me banhar nela…com roupa e tudo. Não tem mal, depois seco ao sol e ao vento. Termino os mergulhos, já estou cansada. Subo a minha encosta, custa mais! É a subir, a roupa está molhada… Quando chego ao cimo, deito-me para secar. Dali vejo o céu e estou ladeada pelas minhas flores brancas e amarelas. Que lindo é o mundo. O que pode haver de melhor na vida. Deixo-me ficar e…adormeço.


Acordei nessa manhã de abril e lembrei-me de tudo. Lembrei-me de cada pormenor, como se tivesse acabado de acontecer. E tive a certeza que não foi um sonho, foi uma lembrança de uma vida passada. Pensei: “Há quanto tempo terá acontecido tudo isto? Que bom! Sentia-me mesmo bem. E se pelo menos eu encontrasse esse lugar? Se ele ainda existisse? Onde seria? Portugal? Não. Lembra-me a Irlanda. Será lá? Bom, quem sabe, um dia saberei.”

Depois desse “sonho”, voltei a visitar o mesmo local. Numa das vezes, eu já era uma jovem e o sonho voltou a ser feliz. Numa outra vez, voltei a visitar aquela jovem, mas o sonho não terminou de forma feliz. Trouxe muito sofrimento. No entanto, o que guardei dessas minhas "viagens", foi a minha encosta e o castelo no alto. Ah, se eu soubesse onde era! 

Há duas semanas, cerca de seis meses depois do primeiro "sonho", enquanto percorria a internet, deparei-me com uma foto de um lugar muito parecido com a minha encosta. Quase idêntico. Onde seria? A minha curiosidade aumentou. Agora não poderia perder a oportunidade de saber. Durante alguns dias, fiz diversas pesquisas e finalmente descobri. Fiquei feliz. Sim, fica em Portugal. Fica a 280km da minha vila, mas sim existe. Eu nunca lá estive, pelo menos, nesta vida. Mas a encosta ainda existe, o rio e o castelo também. As flores também existem, sejam iguais ou parecidas, não importa. São amarelas e brancas. 

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Desanuviar

Triste ... a chorar com aquela falta de merecimento tão conhecida ... O aperto de desespero no peito, deixa-me um peso enorme e a Luz quase que não tem por onde entrar ... São sensações conhecidas que trazem uma tristeza profunda que parece definitiva... Esse choro de desespero que não é evolutivo, que só se retroalimenta. A Luz está lá mas parece inalcançável, sei que tudo depende da minha escolha. E escolho tentar me movimentar nesse fluido viscoso e peganhento dessa energia pesada, dessa energia que tem séculos nas minhas células. Sei que foram as minhas escolhas que me troxeram "aqui". A falta dEle é dolorosa, ao mesmo tempo sei que Ele esta em tudo, sei que está em mim, mas tenho dificuldade em sentir isso ... Resolvo tirar uma mensagem do Livro do Amor da nossa mestra Alex Solnado, esse livro que fala ao meu coração. Ao tirar as peças entrego-me ao que vier. Sai a Próxima Mensagem ... fico mais leve, afinal consigo ouvi-Lo ... Essa mensagem remete para Respostas do Céu que assenta como uma luva, parece que foi escrita para mim nesse mesmo momento ... choro ... Ensina como receber respostas do Céu sem ter que utilizar o livro ... são 5 passos ... mas a expectativa é grande ... é preciso prescindir dela ... Como sinto muito a falta de merecimento decido me focar nos primeiros três passos 1) Primeiro faz uma Autolimpeza Espiritual; 2) Depois fica só assim a prescindir de tudo o que não é teu; 3) Depois recebe a minha Luz; 4) Faz a tua pergunta; 5) E fica no zero até chegar a minha resposta. Para quem tem dificuldade, a preparação energética é feita repetindo os três primeiros passos. Estou mais confiante, consigo me entregar à experiência ... Começo a sentir Jesus, aquela plenitude indescritível invade-me. Pergunto se tem uma mensagem para mim e vem uma frase ... vou buscar rapidamente um lápiz e o meu caderno e escrevo. Sinto que vem dEle. Sei que é Ele que fala:
Quem és tu para decidires se tens ou não valor ? Quem és tu para decidires o valor dos meus filhos, incluindo tu ? O teu valor está no teu diamante, el traz a minha Luz.
Fico de coração cheio com a resposta dEle. A falta de merecimento dissipou-se, saiu de mim.
Pergunto : O que é para fazer amanhã ?
Praticar o Amor. Em tudo. Desde que acordas. É um jogo. Vais ter que descobrir, em cada situação como praticar o Amor.
Quer dizer mais alguma coisa ?
Só te dar um beijo na testa.

terça-feira, 6 de setembro de 2022

Autoestima

É incrível como uma mentira contada muitas vezes, torna-se uma verdade para a pessoa que a conta e, pelo menos, durante algum tempo (ou muito) para a pessoa que a ouve. Assim acontece com a autoestima. Ou, pelo contrário, com a falta dela.

Se alguém passar muitos anos a dizer-te que não prestas, que não sabes fazer nada, que todos são melhores que tu, que deverias ter vergonha, que és burra, que estás a ficar gorda, que estás a ficar feia, que estás a ficar velha, que não sabes cozinhar, que não sabes tratar bem da casa, do marido, dos filhos, da mãe, do pai, etc…, sei lá, tudo serve para te inferiorizar.

E então se for alguém da tua família ou com quem tenhas um relacionamento muito próximo, tu acabas por acreditar que essas pessoas têm razão. Afinal elas amam-te, pensas tu. Até agradeces a Deus o facto de as teres junto de ti para que elas te possam ajudar a perceber que afinal tens poucas qualidades que sejam admiráveis, que tens muito que te desenvolver para poderes ser melhor e tens ali uma pessoa do teu lado que te está a ajudar a fazer esse caminho pois vai-te dizendo as verdades que tu mereces ouvir. Que bom! Que grata te sentes! E agradeces a Jesus todos os dias por os teres na tua vida.

O problema é que à medida que os anos vão passando tu vais te apercebendo que todas as pessoas com quem trabalhas, sejam colegas ou mesmo os teus chefes, ou mesmo os amigos fora do ambiente de trabalho, te consideram uma pessoa muito competente, reconhecem-te inúmeras qualidades que tu esperavas ouvir daqueles a quem queres bem (da tua família) e não daqueles que acabam por ser temporários na tua vida. Mesmo assim ainda pensas: “Oh, aquela pessoa diz aquilo porque só me conhece aqui, neste ambiente. Se ela me conhecesse bem, se tivesse todo o tempo comigo, chegaria à conclusão que afinal eu não sou assim tão merecedora daquilo que ela diz sobre mim.”

Finalmente, um dia começas a despertar e começas a questionar-te: “Mas porque é que sou tratada de forma mais gentil, humana e respeitosa ‘fora de casa’ do que ‘dentro de casa’? Porque é que os outros reconhecem o meu valor, mas ‘em casa’ não?” Embora ainda seja um processo que demora anos até se tornar perfeitamente consciente no teu cérebro, tu já vais começando a fazer comparações diariamente. Chegas a casa e dizes: “Olha, sabes, hoje fui muito elogiada pelo meu chefe por ter desempenhado muito bem determinada tarefa.” ou “Hoje, consegui ajudar a empresa a obter um cliente que era muito difícil.” ou “Hoje ajudei os meus alunos a concretizarem um projeto espetacular”, são apenas exemplos, claro! E a resposta que obténs é: “O que é que isso me interessa? Pensas realmente que essas pessoas gostam de ti? Elas apenas dizem isso porque estás a fazer o que elas querem que tu faças! És um pau mandado. Deixas-te influenciar por tudo que te dizem!”.

Existem aqueles momentos em que tu te sentes um pouco melhor, mais animada, sentes que afinal tens valor porque, cada vez mais, o número de pessoas que te vai valorizando é maior e começas a subir a tua autoestima. Mas, depois, ouvindo amargas palavras como estas, pensas para ti: “Mas porquê? Porque é que é sempre assim? Porque é que não ouço uma palavra de alento? Uma palavra de reconhecimento?" E choras, choras muito, sem ninguém saber. Choras e pedes desculpa a Jesus por estares a agir assim, a sentires-te assim, a sentir que tens valor. E continuas a pensar: "Mas eu não me sinto superior aos outros. Eu reconheço o valor dos outros, mas eu também devo ter algum valor, não? Será que estou a pensar mal?" Há uma voz interior que diz que estás certa, mas depois, ali, ao teu lado, tens alguém que te mostra que te achas melhor que os outros. Pedes desculpa a Jesus e choras. É sempre o mesmo processo. Há muito tempo. E, assim, no dia seguinte, lá inicias o teu novo dia de cabeça baixa, porque afinal não vales assim tanto quanto pensas.
Até um dia...

Um dia, de repente, mudas a tela ao contrário e pensas: "Será que o mal está mesmo em mim? Ou será que o mal está naquela pessoa que mesmo afirmando que gosta de mim e que aquilo que diz é para o meu próprio bem, não consegue manifestar admiração por mim e, em vez disso, se sente inferior e, por isso, prefere humilhar-me para ela própria não se sentir diminuída?”

Este foi o ponto de viragem. É como se andasses anos cega e de repente começasses a ver. E com tanta clareza, meu Deus, que até magoa. Aí sim, começa a dor real, profunda, porque afinal iniciaste o teu processo de ENXERGAR A REALIDADE. E isso dói. Como pudeste ser tão cega? Tantos anos a ver apenas uma perspetiva, um lado, e afinal esqueceste que existem sempre dois lados da mesma moeda.

Então tu, que reconheces que todas as pessoas à tua volta têm valor, que todas as pessoas têm qualidades e defeitos, que todas têm talentos...!!! Se uma pessoa não tem talento ou não é boa a fazer nada, então porque Jesus a colocou na terra? Não tem lógica. Então, entendes: é porque TU TAMBÉM TENS VALOR!

E começas a perceber: “Espera aí? Algo aqui não está bem. Eu tenho confiança nos meus atos e nos meus pensamentos, então porque permito que uma pessoa me desvalorize tanto, ao ponto de eu me negar como pessoa? Afinal não é ela que está errada! Sou eu que estou errada! Essa pessoa está a fazer o papel dela, o caminho dela e está muito feliz por estar a conseguir atingir o objetivo a que se propôs em relação a mim. Quem sabe, terá uma evolução muito grande pela frente para fazer se quiser realmente mudar e melhorar o seu comportamento em relação aos outros. Mas isso é problema dela. Não meu. Eu tenho que fazer o meu caminho. E quanto a mim, eu é que estou errada. Sou eu que estou a permitir que me tratem assim. Sou eu que tenho que me valorizar e ver o apreço que os outros têm por mim e pelo meu trabalho. Eu tenho valor. 

É desta forma que tu começas finalmente a entender que, nem sempre aqueles que te são próximos (família, relacionamentos) são aqueles que te querem bem. Pode não ser por mal, até. Apenas não sabem ser de outra forma. Mas cabe a ti pensar se queres continuar a viver assim. É nessa altura, que tu começas a entender o verdadeiro significado daquela expressão popular: “Afinal se eu não gostar de mim, quem gostará!”

sábado, 3 de setembro de 2022

O cão


Todos nós temos momentos de irracionalidade, momentos em que não pensamos direito nas nossas ações, apenas reagimos. Eu já tive alguns momentos desses e na altura reagi sem pensar que o desfecho poderia ser negativo para mim!

Eu adoro animais, principalmente os nossos amigos gatos e cães. E não suporto ver crueldade para com os animais. Há muitos anos, no inicio da minha carreira profissional, fui a uma entrevista de emprego. Como não era propriamente perto da minha residência, tive que ir de comboio. No regresso, tive que aguardar muito tempo pelo comboio e, como não havia qualquer comércio ali por perto, resolvi esperar na estação. Lembro-me que a estação era velha, escura e os bancos, ainda de madeira, estavam sujos e não convidavam a sentar, principalmente estando eu vestida de branco. Então fiquei de pé.

Passado algum tempo, não sei precisar quanto, notei que na mesma plataforma, mas uns metros afastados de mim, estava um homem na casa dos 40 anos, vestido com roupa gasta, suja e perto dele passava um cão. Não me parece que o cão fosse dele e o tivesse acompanhado até à estação, porque na verdade, o que me lembro de pensar era que o cão já costumava andar por ali na estação e estava a tentar aproximar-se do homem. O cão estava em má condição física e coxeava muito. Quando dei verdadeira atenção à situação, já o homem enxotava o cão e dava-lhe pontapés. E o cão, fraco e com tanta dor, deitou-se no chão, não se mexia, gania e enroscava-se o mais possível a cada pontapé que levava.

Eu, incrédula, comecei a olhar para a situação e revoltada, olhava para as outras pessoas, poucas, que estavam na estação na tentativa desesperada que alguém fizesse alguma coisa. Mas lembro-me que todos eles viraram a cara como se não estivesse a acontecer nada. Cada vez que ouvia o cão queixar-se com dor, era mais um pontapé que levava e mais um baque que o meu coração sentia. Eu não sei quanto tempo eu fiquei a pensar no que podia fazer, minutos? segundos?...

Decidida a fazer alguma coisa, porque ninguém fazia nada, sem pensar, eu dirigi-me ao homem e quando cheguei perto dele, num impulso, puxei a mão bem atrás e dei-lhe uma bofetada na cara com toda a força que tinha! E disse-lhe: “E então? Gostou? Também gostava que lhe fizessem o mesmo? Deixe o animal em paz porque ele não se pode defender, mas eu estou aqui para defendê-lo. Imagine que era você ferido ali no chão e uma pessoa a dar-lhe pontapés. Gostava?”

O homem ficou petrificado. Estava perplexo com a minha atitude, não teve reação e nem conseguiu dizer nada. Foi embora da estação a passos largos e de cabeça baixa.

Eu estava literalmente fora de mim que nem me dava conta do comportamento que tinha tido. Continuava com sentimento de revolta dentro de mim por ver tanta crueldade. Mas só pensava no cão. Assim, baixei-me para ver o estado de saúde do cão. Foi então que me apercebi que ele coxeava porque tinha uma ferida exposta na anca, provavelmente de algum atropelamento com carro ou comboio. No meu pensamento só pensava como salvá-lo e como poderia fazer para o levar ao veterinário, mas para isso teria de o levar no comboio. Enquanto pensava em tudo isto, olhei à minha volta e foi então que me apercebi da dimensão do que tinha feito: o susto na cara das pessoas, o seu olhar perplexo… Uma senhora aproximou-se de mim e deu-me os parabéns pela minha atitude, outros disseram que eu fui muito corajosa e destemida, mas também houve quem dissesse que eu fui inocente e me coloquei em perigo, pois o homem já costumava andar pela estação, fazia sempre coisas que não devia e tratava mal as pessoas. Ele podia ter-me feito mal. Além de que era bem maior e mais forte do que eu...

Mas eu não pensei, agi. Não estava orgulhosa da minha atitude, mas no momento apenas pensei que se ninguém fazia nada, eu teria de fazer alguma coisa. Parti para a violência, o que nunca é justificável, mas no momento resultou, porque apanhando o sujeito desprevenido com a minha atitude, ele parou com a sua crueldade. Foi como se eu o tivesse acordado de um transe…

Infelizmente, acabei por ter de deixar o animal na estação porque na bilheteira disseram-me que o cão não poderia ir no comboio. Eu expliquei, mas nem assim. Não era permitido. Além disso, quando voltei da bilheteira minutos depois, e me tentei aproximar dele, ele já se afastava para longe da plataforma, para longe das pessoas, coxeando com uma pata no ar, olhando para trás com ar triste, desolado.

Esta história verídica passou-se há mais de 25 anos, mas marcou-me de tal forma que ainda hoje penso que poderia ter feito muito mais do que aquilo que fiz no momento. Nem é o momento da bofetada que recordo vivamente, mas sim a tristeza no rosto do animal, a desilusão, enquanto se afastava, como se estivesse desiludido connosco, pessoas.

sábado, 27 de agosto de 2022

A promessa

 Adoro animais! Todos. Consigo me relacionar com eles, consigo ver a Alma de cada um deles. Eles têm um lugar especial no meu coração. É um lugar sagrado, onde está sempre Sol.

Quando finalmente fui viver por minha conta, com 22 anos, o que mais me custou foi a separação deles. Vivia no bairro da Alcântara, em Lisboa, numa residência universitária e passava os fins de semana e os dias feriados na Tapada da Ajuda, que nessa altura ainda tinha muitas árvores e vegetação. Um dia vi lá um cão de caça em bastante mau estado, doente, e percebi que estava condenado se não fosse tratado. Tinha uma postura muito digna e depois de me farejar ficou a olhar para mim. Passaram 30 anos e recordo-me como se fosse ontem. Falei com ele, não tinha nada para lhe dar de comer. Estava cheio de feridas na pele e senti o meu coração a se partir por não ter coragem de lhe dar uma festa. Disse lhe o que sentia e expliquei-lhe que não o conseguia ajudar. Senti que entendeu e se foi  embora pela vinha até ao muro circundante. Subiu em cima do muro e de lá começou a enxergar na direcção oposta, a linda vista da ponte com o horizonte como fundo. Já não me ligava e o olhar dele ia para longe, na dignidade de quem procura o infinito e encontra Deus. Chorei rios ali, naquela tarde, por não o poder ajudar, chorei a minha impotência, chorei por ele estar doente, chorei pelo sofrimento dele. Foi ali que fiz uma promessa à mim mesma. Prometi-me que um dia, iria ajudar os animais em sofrimento que se cruzam comigo. E cumpri. Estou a cumprir. E isso me traz muita felicidade! 

Nunca comprei um animal, todos foram resgatados. Porque a Alma não se compra. Basta não fechar os olhos. A vida mostra, a vida traz. Só 12 anos mais tarde, consegui resgatar o primeiro animal, a gata Nikita, e 20 anos mais tarde a cadela Fiona. Foram companheiras de viagem para os momentos de alegria e de tristeza. Trouxeram bênçãos e ensinamentos. E sobretudo me ajudaram a me tornar uma melhor pessoa, com tanto Amor Incondicional que me deram. Hoje tenho um refúgio de gatos de rua na garagem da minha casa. Estão completamente livres, a entrar e a sair por uma manilha. Cada animal que se cruza comigo é uma bênção do Céu. 

Quando conheci a espiritualidade pela Alexandra Solnado, e li, numa mensagem da Luz de Jesus "eu estou no animal que não trataste“, o meu peito explodiu de felicidade, tudo que eu já sentia agora veio como ensinamento. 

AMT

terça-feira, 23 de agosto de 2022

Rejeição e reconhecimento

Era uma vez uma menina que passava o tempo a estudar. Tentava fazer tudo bem feito, perfeito, para que ninguém lhe apontasse defeitos. Fazia tudo a pensar que era isso que esperavam dela. Quando ouvia uma critica, não lidava bem com ela e, se alguém lhe dizia que algo não estava bem, mais ela se esforçava por agradar. No fundo, passava o tempo a querer ouvir uma palavra de reconhecimento.

Durante anos, esforçou-se na tentativa de obter essa palavra, de sentir orgulho por parte da sua família. Foi pioneira em muitas situações, em muitas ações, e, principalmente, tinha uma forma de pensar e de agir diferente do que era esperado do seu papel de mulher na sociedade. Mesmo assim, ela pensou sempre: “Um dia vou ouvir o quanto gostam de mim, mesmo com os meus defeitos, o quanto estão orgulhosos por tudo o que consegui, mesmo que em alguns momentos não tenham entendido as minhas razões ou decisões.” Mas não. Essas palavras nunca chegaram de quem ela queria. Ouviu-as de pessoas amigas, colegas e até mesmo estranhos, mas nunca as ouviu de quem ela sempre desejou.

Também pensou que provavelmente não as ouvia porque esperavam que ela fosse forte e que, em nenhuma situação, deveria mostrar fraqueza. Assim, enfrentava todos os “Golias” que lhe apareciam pela frente da melhor forma que conseguia, sem tempo para ficar com depressão, sem tempo para parar e fragilizar-se. Tinha a certeza que era isso que queriam que fizesse. Assim, iria ouvir as tão esperadas palavras de reconhecimento. Mas não. Nada. Novamente, ouviu-as de outros, mas não da família.

Até que, um dia, esta menina, agora já crescida, parou para refletir e a resposta veio através de uma leitura num livro: “…aceita vivenciar o que te está a ser proposto, seja o que for. Se não puderes mudar o rumo dos acontecimentos, fica, não fujas da dor. (…) Sente até ao fim. Chora, se for preciso. Só assim estarás pronto para arrumar o assunto e continuar a jornada. Jesus”. (“O Livro da Luz", Alexandra Solnado).

Afinal, eu estava a ver apenas uma perspetiva e esqueci que neste mundo existem sempre dois aspetos: o bom e o menos bom. Eu procurava o bom, desesperadamente. Até que entendi, que por vezes, é mesmo intenção do Universo que passemos por esses desafios para podermos evoluir. Se estamos a passar por determinada situação, não podemos sentir pena de nós próprios, temos de analisar: "porque atraí eu esta situação? O que é suposto eu aprender com isto?" Afinal, tudo está milimetricamente orquestrado pelo céu. E se eu atraí determinada situação é porque existe alguma aprendizagem para fazer. Assim, estou a aprender a aceitar e deixar fluir.

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Ser mãe

Penso muitas vezes se estarei a ser uma boa mãe. Faço o melhor que posso, mas como saber? Os bebés não nascem com livro de instruções!

Eu até sou boa a seguir as instruções do IKEA, ou de qualquer outra marca, quando compro um móvel para montar, mas os bebés não são móveis e, seguramente, não trazem nem o livrinho de instruções nem os parafusos. Muito menos os parafusos, esses às vezes davam muito jeito. Mas para nós, mães. Sim, porque em certas horas, ficamos completamente desaparafusadas.

Ninguém prepara as mães para o que aí vem. No inicio, os bebés choram, porque têm fome, porque têm frio, porque estão sujos, porque têm cólicas, porque sentem medo, porque… enfim, choram por tudo. E como é que eu conseguia distinguir? Porque chora ele agora? Tinha que fazer uma check-list: já vi a fralda, check; já dei a papinha, check; já vesti mais um casaquinho, check; bom, ele continua a chorar, então, devem ser cólicas, é o que sobra da lista. Ufa!

E eles aprendem tão rápido que é impressionante. Com o crescimento aprendem a fazer aquelas expressões, aquelas carinhas de safadinhos, que sabem perfeitamente vão fazer as nossas delicias e passam assim ao lado de um grande ralhete. Podem pintar as paredes da sala com os marcadores de todas as cores, podem arrancar as penas ao papagaio, podem pintar as unhas dos pés do avô enquanto ele dormita no sofá, …ninguém se chateia com nada. Até acham muita graça!

Atualmente, no meu papel de mãe de um adolescente, pergunto-me muitas vezes se deveria repreender o meu filho. E muitas vezes, quem me repreende é ele. Se faço uma asneira, já sei que ouço uma chamada de atenção do meu filho! E quando é o contrário, eu fico dividida entre ralhar com ele, ou adotar as técnicas todas de que falam os psicólogos, mas que, mais uma vez, não nos ensinaram antes de sermos mães.

Ser mãe é uma profissão de alto risco. Sem seguro, sem salário, sem fins de semana e sem férias. E não me posso demitir. Mesmo que esteja a desempenhar mal o meu papel. E estágio? Não tive. Foi tudo por intuição. Principalmente, a saúde. Sim, as doenças. A certa altura, eu já ligava à médica e era eu que lhe dizia a causa do problema, quais os sintomas, e o que ele deveria tomar. Só precisava da receita. A mãe conhece melhor o seu filho do que um médico que o vê uma vez.

Mas é difícil ser mãe. A cada dia, não se sabe o que vai acontecer, porque ainda não chegámos a esse capítulo do livro. Espera-se sempre que o livro tenha um final feliz e que um dia se possa dizer que foi uma história única e maravilhosa. Por mim, esta foi e é a melhor bênção que recebi na vida. 
E o amanhã? Estou à espera que saía o próximo livro da coleção…
CC

domingo, 21 de agosto de 2022

O Anjo

Na altura da Universidade, como estava longe, não ia muitas vezes visitar a família. Talvez uma vez por mês. Um dia, não tinha planeado viajar, mas por algum motivo, decidi ir. Foi uma decisão em cima da hora, pelo que não comprei os bilhetes de comboio com antecedência, como era costume. Mesmo assim tinha tempo de comprar antes de embarcar. Fiz as malas e pedi autorização para usar o telefone fixo da residência universitária (ainda não havia telemóvel) para ligar à minha mãe a informar que ia visitá-la. Constatei que não tinha dinheiro, mas como tinha de ir a pé até à primeira estação de comboios na baixa da cidade, onde apanharia o comboio que faria a ligação com o Intercidades, fui ao primeiro terminal multibanco que encontrei (naquela altura, ainda não havia muitos terminais). Não consegui levantar dinheiro pois estava fora de serviço. Tentei todos os terminais que encontrei no trajeto (cerca de 20 minutos a pé até à estação) e todos estavam fora de serviço. Claro que cada vez ficava mais nervosa, mas pensava sempre que no seguinte iria ser diferente. 
Ao chegar à estação não tinha dinheiro para comprar o bilhete para o Intercidades, mas lembrei-me que ainda tinha umas moedas e pensei: “Bem, compro o bilhete até à estação principal e, quando chegar, vou ao multibanco lá perto e levanto dinheiro para comprar o bilhete para o Intercidades. Esse com certeza estará a funcionar porque tem uma procura maior”. Assim fiz.

Depois de chegar à estação principal, fui a esse terminal de multibanco, que era a minha última esperança, e fiquei feliz porque não estava fora de serviço. Introduzi o cartão e… O multibanco reteve-o. Ou seja, ‘engoliu o cartão’. “Mas o que é isto? Isto não pode estar a acontecer-me! Que mal fiz eu a Deus?”

Eu, que sempre fui forte, comecei a tremer de raiva. Fiquei completamente cega de raiva, mas não chorei! Não podia chorar, porque não queria que me vissem chorar. Lembro-me que fui pensando “Porquê? Porquê? Porquê?”, enquanto flutuava até à estação (pois não me lembro de caminhar até lá). Fiquei uns minutos na sala de espera, cansada do peso das malas, cansada da situação, sem ação, sem conseguir processar o que me estava a acontecer. Estava quase a chegar a hora do comboio partir e eu, tentando ser lógica, tentando racionalizar a situação, tentando ser prática, pensava nas alternativas que tinha. Não queria dar o braço a torcer que tinha perdido aquela ‘batalha’, mas a única alternativa que eu tinha era voltar para a residência. E, ainda por cima, nem comida tinha para o fim de semana, porque não tinha dinheiro para comprar nada.

Como ainda tinha umas moedas comigo, fui a um dos telefones da estação, para ligar à minha mãe e avisar que já não iria. No inicio, tinha pensado dizer-lhe que afinal não ia porque era greve dos comboios. Não a queria preocupar. Mas quando ouvi a voz dela, desmanchei-me a chorar e até soluçava, enquanto lhe relatava mais ou menos o que me tinha acontecido. Ela ficou triste, preocupada e perguntou-me como ia fazer. Eu disse que não se preocupasse porque tinha passe do autocarro e ia regressar à residência.

Lá terminei a chamada e dirigi-me para a paragem do autocarro, arrastando as malas...e a mim. Desde o telefonema que não parava de chorar e assim continuava, mesmo na paragem e com pessoas a ver! Eu nem reparava nelas e só pensava como ia sair daquela situação. Nesse momento, derrotada, lembro-me de pensar: “Meu Deus, ajuda-me! Eu não sei o que fazer!”

O tempo que estive na paragem pareceu-me uma eternidade, mas na realidade, devem ter passado apenas uns minutos. E, de repente, um senhor com uma mala de viagem na mão, vem ter comigo e disse: “Olhe menina, posso falar consigo? Desculpe, não me leve a mal, mas eu estava na zona dos telefones e ouvi a chamada que fez para a sua mãe. Olhe, eu venho agora de França para visitar a minha família em Bragança e sei o quanto custa estarmos longe da família. Se a menina não me levar a mal, eu pago-lhe o bilhete de comboio e a menina vai visitar os seus pais.”

Eu fiquei sem palavras. Eu não sabia o que fazer. Estava incrédula. Quando finalmente falei, disse-lhe que não podia aceitar, que não se preocupasse, pois eu ia para casa. Mas ele insistiu e disse: “Olhe eu não lhe quero fazer mal. A menina vem comigo até à bilheteira, pede o bilhete para a sua terra e eu pago. Simples!” E eu disse: “Obrigada, mas eu não o conheço e não sei como lhe poderia pagar depois!”. “Ora eu não lhe estou a pedir que me pague. Estou a fazê-lo porque quero. Vá lá, despache-se, olhe que perde o comboio e depois é que já não tem alternativa”. E eu aceitei.

Um senhor que eu não conhecia pagou-me o meu bilhete! Incrível! 
Despedi-me dele, agradeci imenso pelo que me fez e enquanto me dirigia para o comboio, só pensava na situação surreal que me tinha acontecido. Embarquei no comboio e, mal tinha chegado ao lugar, vi-o a acenar do lado de fora da janela. Abri-a e ele disse, meio ofegante, “Diga-me o número de telefone da sua mãe! Eu ligo para ela a dizer que afinal embarcou.” Eu dei o número, e perguntei como é que lhe poderia agradecer pelo que me estava a fazer. E ele disse: “Faça o mesmo a outra pessoa”. 

Naquele momento, na paragem, sinto que, talvez pela primeira vez, tive a coragem de me permitir fragilizar-me. E quando pedi ajuda divina, ela veio. Foi uma das situações mais bonitas que já me aconteceram até hoje. Durante todos estes anos, sempre que me lembro deste senhor, digo: “Obrigada meu Deus, obrigada por me teres enviado um anjo”.
CC

sábado, 20 de agosto de 2022

Uma memória feliz

Na minha adolescência, eu tive um coelhinho branco com o rabo cinzento como animal de estimação. A minha mãe fazia criação de coelhos em casa para a nossa alimentação. Um dia nasceu aquele coelhinho, era diferente de todos os outros que eu estava habituada e pedi para ficar com ele, como pet. Ela acedeu, pensando que fosse um pedido temporário e que logo esquecia. Mas eu adorava aquele coelhinho e durante algum tempo (talvez anos) salvei-o de ser cozinhado. Eu adoro carne de coelho, é a que mais gosto, mas aquele nem pensar, cada vez que se falava no assunto, eu chorava e dizia à minha mãe que ‘não’.

Quando ele morreu, e eu não me lembro porquê (mas acho que não foi para a panela!), pedi à minha mãe para guardar o rabo dele como recordação. A minha mãe achou aquilo uma tontaria, mas acabei por ficar com ele. Ela dizia que iria acabar por apodrecer e eu teria de o deitar fora. Então, perfumei-o e guardei-o na minha caixinha de coisas (bugigangas) "importantes".

Ao longo do meu crescimento, de vez em quando lá ia eu visitar o rabinho do coelho, voltava a perfumá-lo e voltava a lembrar-me do coelhinho. Quando fui para a Universidade, fui para longe estudar e levei o rabinho do coelho comigo. Guardei-o sempre. De vez em quando, eu perfumava o rabo do coelho e ele nunca apodreceu.

Já na idade adulta, por muitos anos, deixei de ver o tal rabinho e até esqueci o coelho. Mas, há poucos anos fiz algumas mudanças de casa e, claro, isso implica encaixotar e desencaixotar. Então, sem esperar, voltei a encontrar o rabinho do coelho. E fiquei muito feliz pela bonita memória que me trouxe. Era uma memória feliz da minha infância. E encontrar algo que guardei há cerca de 30 anos atrás, intacto e ainda a manter um leve odor a perfume foi muito gratificante. Foi bom perceber que uma atitude que tive há muitos anos atrás, me trouxe, em recentes momentos difíceis da minha vida, a lembrança de que a vida não é só feita de ‘baixos’, mas também de ‘altos’. 
E, naquele momento, fez-me sorrir.
CC

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

A minha miúda

 A minha miúda. A criança que eu fui. A minha criança interior ... que precisa de ser resgatada.

Resgatar a criança bebé que, ao sair da maternidade aos braços da avó, por a mãe não a conseguir levar, já tinha passado pelo trauma de lhe abrirem os furos nas orelhas e colocarem-lhe brincos, depois do trauma do próprio nascimento ... Essa criança, essa Alma em corpo pequeno, não aceitava a encarnação e chorava dia e noite sem querer comer o leite em pó que substituía o leite da mãe. 

Resgatar, dos dias de tristeza profunda, dos dias de ansiedade, a miúda pequena que estava doente, de cama, com a mente a vaguear por campos de batalha entre o bem e o mal. Como se fossem imensos exércitos de soldadinhos de chumbo, sem face, a preto e branco, e a criança a observar quem iria ganhar, sem tomar partido de nenhum deles ... Assim como, nunca tinha tomado partido de nenhum dos pais nas discussões intermináveis de vitimização recíproca que os dois praticavam com mestria escorpiônica. 

Um quarto com uma cama de criança e uma cama de casal, roupeiro, na porta -- um baloiço feito em corda e madeira, e por cima, um quadro religioso com a Nossa Senhora com o Jesus criança sentado ao colo, à moda ortodoxa. Era esse o cenário dos dias de risadas com o pai e esconderijo no roupeiro deixando os chinelos à porta, e também o cenário dos dias cinzentos em que a menina estava doente a fixar dia e noite o estore verde de tecido enrolado. A única boa notícia desses dias era a visita da avó que vinha do outro lado da casa com a garrafa de aguardente de ameixa, a bebida do orgulho nacional, para lhe dar uma massagem de tratamento para curar o resfriado. Nessas noites longas transformou o medo do escuro, observando as formas gigantescas que as sombras das flores de um vaso, tomavam na luz indecisa da iluminação de rua.

E havia os longos dias de verão, em que havia flores no jardim dos avos, havia tomates e havia fruta, os pêssegos de carne rosada e casca peluda enegrecida pelos fumos de poluição duma cidade de industrias comunistas, criadas com o único propósito de empregar trabalhadores. Nesses dias a minha menina brincava no monte de areia que tinham trazido no quintal e ajudava o avô na sua bricolage, batendo pregos na terra por tudo que era sitio. Mas o mais que ela gostava, eram os animais. Esses seres tão próximos da sensibilidade dela, que olhava e olhe, até hoje, com o fascínio de descobrir o milagre da vida. O pai lhe estava a ensinar que Deus é a Natureza, que Deus está na perfeição das flores, na perfeição da Natureza e ela o reconhecia nos olhos desses seres com quem aprendeu o que é Amar. 

O primeiro animal de coração foi uma galinha. A mãe não querendo que ela tivesse contacto com os cães e os gatos da avó, os afastou todos. Mas a minha miúda adorava animais e com uns 3 anos ligou-se a uma galinha que ficava ao colo dela, para o espanto de todos, pais, avós e bisavós incluídos. Era uma galinha vermelha, grande, que ainda hoje, de olhos fechados consegue sentir o toque das penas e da penugem quente do peito. Não demorou muito tempo e mataram a galinha; um dia a bisavó disse que a tinham comido na canja. Não me lembro se a minha miúda chorou, foi um choque muito grande e quase não queria acreditar, mas foi a partir daí que começou a perceber que não podia contar com ninguém e que o melhor era crescer.

Um dia, já adulta, descobri uma foto, com a minha miúda ao colo da minha mãe. Fiquei muito admirada e triste por não me recordar de ter estado alguma vez ao colo da minha mãe. Diziam que era uma criança grande e pesada e depois de algumas cavalitas às costas do pai, só a avó a levava ao colo, quando estava sentada. E a avó também se deixava pentear o que a miúda adorava. Cedo lhe contaram que essa avó não era a "verdadeira" por a mãe ter sido adotada, mas à miúda pouco se interessava por essas coisas, era essa a avó que lhe dava algum conforto emocional maternal, era essa a avó que gostava de animais e que lhe contava longas histórias da vida dela enquanto cozinhava. Foi dessa avó que recebeu o legado de cuidar de animais, de falar com as flores, de estudar sobre plantas e de cozinhar com gosto e sou eternamente grata.
AM

Raiva

Há meses voltei a ver com maior frequência uma pessoa que já não via há muitos anos. No primeiro reencontro, casual, ela cumprimentou-me, perguntou sobre mim e família e basicamente dei por mim a “despachá-la”. Sentia-me muito desconfortável por estar na presença dela. Sentia raiva. E o meu corpo ficava todo contraído, rígido mesmo. Passado um tempo, voltei a encontrá-la e ela tentou nova abordagem de forma mais prolongada. Novamente senti aquela raiva e tentei escapar da situação mal pude, chegando a ser até um pouco agressiva com ela. E este padrão ainda se repetiu algumas vezes. Ela nunca questionou nada sobre a minha atitude. Talvez nem se tenha apercebido.

A certa altura, dei por mim a pensar sobre o assunto. Porque sentia eu esta raiva quando estava na presença dela? Afinal, em todos os nossos encontros, ela foi sempre cordial, amável e nunca houve motivos que me fizessem ficar assim. Parecia genuinamente interessada em saber que eu estava bem. Então porquê? Eu sentia que era errado sentir-me assim sem motivos, mas não conseguia evitar, era mais forte que eu. Lembrei-me de uma frase que ouço a Alex Solnado dizer muitas vezes “a raiva é o airbag da tristeza” e pensei: “Será que isto vem do nosso passado? Algo que aconteceu? Alguma situação mal resolvida?” E andei uns dias a pensar nisso.

Há três semanas, sem esperar, lembrei-me de um episódio de infância ocorrido entre nós e outros miúdos em que ela liderou uma situação de humilhação relativamente a mim. Eu era muito tímida e não consegui falar, defender-me e fiquei tremendamente triste, fugi para casa e chorei durante muito tempo. Estava aí o motivo. Encontrei. Afinal, a raiva que eu sentia atualmente era uma tristeza recalcada, refreada. Como nunca confrontei os miúdos, ou ela em particular, como nunca enfrentei a situação dizendo como aquilo me fez sentir, acumulei tristeza que se transformou em raiva. Por isso, pensei que nunca era tarde para se falar sobre as situações e quando a encontrasse, falaria sobre isso. Ela, com certeza, se lembraria do que fez. Afinal é algo que não se esquece! Foi grave!

Como acredito no destino, dias mais tarde voltei a encontrá-la no supermercado. E desta vez, ganhei coragem e de forma animada e até um pouco irónica abordei a questão das “marotices que fazíamos” em criança. E disse-lhe: “Olha, por exemplo, como aquela vez que tu e os outros miúdos….” e descrevi a situação. E ela, com a boca aberta, olhava para mim como se eu estivesse a contar algo que nunca aconteceu, cena de filme, talvez. E disse: “Ah, eu fiz isso? A sério? Não me lembro?” Eu respondi que sim e, sempre a sorrir, até dei mais alguns pormenores, acabando por dizer que tinha ficado muito triste. E ela continuou: “Mas olha que não és a primeira pessoa a contar-me traquinices que eu fazia e eu nunca me lembro de nada. Eu devia ser mesmo mázinha! Olha, tu desculpa se eu fiz isso, mas nós fazíamos tanta parvoíce e não era por querermos mal uns aos outros. Tu desculpa lá!” E depois disto, quem ficou com a boca aberta fui eu!

Naquele momento, a minha raiva desapareceu e o meu corpo deixou de estar contraído. E dei por mim a pensar que há momentos na nossa vida que andamos a pensar tão mal uns dos outros e que achamos que as pessoas não gostam de nós ou que são más pessoas e, por vezes, são apenas mal-entendidos, falhas de comunicação, formas de agir diferentes. E veio à minha mente, que, provavelmente, também poderá haver pessoas que atualmente sentem raiva de mim e pode ser por algo que eu nem sei que fiz, mas para elas teve uma importância enorme. É por isso que a comunicação é tão importante.

Muitos problemas emocionais levam a somatizar problemas no corpo – doenças. Algumas vezes nem percebemos a origem daquela doença. Podem ser questões mal resolvidas, como esta. Vale a pena pensar nisso! Quando eu sinto raiva, se eu penso que é errado sentir isso, eu estou a julgar, a julgar-me e, inconscientemente, vou amplificar essa emoção e fico com mais raiva ainda, primeiro porque estou a sentir aquela emoção de raiva e depois porque sinto frustração por estar a sentir raiva. Isso acaba por acumular-se no corpo e ao longo do tempo podemos ficar doentes. 

Contei uma situação que aconteceu com alguém que estive muitos anos sem ver, mas podia ser com alguém da nossa família, que vemos todos os dias e, por não conseguirmos comunicar com ela e resolver as situações quando surgem, ao longo do tempo, passa a manifestar-se um problema físico derivado da emoção de raiva acumulada no nosso corpo.

O meu percurso de autoconhecimento tem sido uma enorme mais-valia para conhecer melhor o que sinto e como isso me está a afetar. Olhar para dentro de mim, escutar-me, escutar o meu corpo, tem ajudado a tomar consciência de problemas que não sabia que ainda estavam a afetar-me. Tenho conseguido ultrapassar algumas situações, mas o caminho faz-se caminhando. Por isso, irei continuar. Deixo a minha receita: 
Uma meditação por dia, nem sabe o bem que lhe fazia!
CC

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Duas gatinhas

Desde pequena sempre tive cães e gatos. E lembro-me de pensar muitas vezes que seria muito engraçado se eles falassem connosco. Então, dava por mim a olhar nos olhos do cão ou gato para ver se havia uma espécie de comunicação telepática e, de repente, eu entendia o que ele me dizia. Mas nunca aconteceu.

Tenho imensas histórias com animais de estimação, mas quero contar duas histórias com gatinhas para mostrar a forma como as duas foram importantes para mim por motivos diferentes.

A certa altura na infância, convivia connosco uma gata preta e branca - a Bita - que era parideira. Tinha ninhadas atrás de ninhadas. Foi uma gata de rua que a minha mãe acolheu já adulta. Ela não gostava muito de carinhos nossos, fugia quando nos aproximávamos dela. Mas, no entanto, fez da nossa casa a sua morada permanente ou para onde voltava mais vezes. Durou muitos anos - 15 ou 16 anos. A certa altura, talvez por ter sido mãe muitas vezes, acabou por adoecer com um problema nas maminhas e o fim começou a aproximar-se. Um dia bem cedo, cerca das 6H00 da manhã começou a miar muito alto no pátio. Como não era costume, eu e o meu irmão decidimos nos levantar e ver o que se passava. Ela deixou-nos fazer ‘festas’ (carinhos), mas não saía do mesmo sitio e continuava a miar e a olhar para a porta para ver se a minha mãe aparecia. Quando ela chegou, a gata, sempre a miar, fez com que a seguíssemos e deitou-se a um canto, muito fraca. A nossa mãe explicou que ela estaria a morrer e que nos foi chamar para se despedir de nós. Claro que começámos a chorar. Ela estava a deixar-nos fazer ‘festas’ enquanto miava de dor e de tristeza, cada vez mais baixo (como que desistindo e se despedindo) enquanto nós continuávamos a chorar. Foi um momento muito doloroso para mim, por isso me lembro. Pouco tempo depois (talvez minutos, já não sei precisar) ela acabou por morrer ali na nossa presença. Isso foi algo que me comoveu para sempre e foi aí que tive a minha prova de que os animais comunicam connosco à sua maneira.

Também acredito que os gatos têm uma missão espiritual para com o ser humano. Há quem diga (e eu acredito) que quando um gato escolhe o seu dono é porque o deve proteger, porque tem uma divida kármica com ele que vem de vidas passadas. E isso foi o que aconteceu com a minha atual gatinha. Foi ela que me escolheu. 

Bom, então, depois de ter tido uma má experiência com um gato (mas isso fica para outra altura), eu decidi que não queria mais animais. Até porque vivia num apartamento, passava muito tempo fora de casa e achava injusto ficar um animal sozinho o dia todo fechado. Passados dois meses de ter tomado esta decisão, planeei um fim de semana com o meu filho a um local onde nunca tínhamos ido. Nessa manhã de fim de semana, fomos até ao farol e o mar estava bravo. De repente, ouvimos e vimos uma gatinha muito pequenina (2 meses). Pegámos nela e tentámos logo ali procurar donos. Mas sem sucesso. O meu filho pediu para ficar com ela, mas eu recusei. Levei-a ao veterinário para ver se ele a acolhia, mas não. Mais tarde, tentei que algum amigo do meu filho ou algum aluno meu ficasse com ela, mas não. Bom, comecei a intuir que ela deveria ficar connosco e com mais ninguém. Assim foi. Foi crescendo connosco e agora é a minha outra ‘filha’. Ela é o animal mais querido que já tive até hoje. Com ela, aprendi a conectar-me novamente com os animais: dá-me muitos carinhos (lambidelas) e eu retribuo os carinhos, ela dorme comigo (algo impensável anteriormente), aprendi a “falar gatês”, pois respondo a todos os tipos de miadelas que ela faz (é muito engraçado entender os diversos sons que ela faz para comunicar comigo), aprendi novamente a amar! Uma gatinha tigrada que é perfeitamente comum conquistou um lugar bem especial no meu coração. 

Eu ficaria muito triste se ela desaparecesse e isso aconteceu há duas semanas. Agora já não vivo em apartamento e como ela é caçadora, de vez em quando, vem oferecer-me presentes: passarinhos, ratinhos, osgas, enfim. Outro dia aventurou-se mais e, como não me deito sem ela, andei até tarde à sua procura. Não a encontrei e fiquei muito triste. Juro que pensei que ela já teria cumprido a missão que tinha comigo e que chegou a hora de ir embora. Mas, felizmente, esteve desaparecida cerca de 24 horas e voltou. Acho que foi um alerta para eu entender que ela não é minha e que a qualquer momento, pode partir. Tenho de aprender a desapegar. 
Na semana passada voltou a desaparecer e agora já entrego ao céu. Vai ser o que tiver de ser. 
Vou tentando usufruir da sua companhia enquanto tenho a bênção de a ter na minha vida. 

É bonito saber que temos pequenos anjos que nos são enviados com determinado propósito, mas a maior parte das pessoas nem pensa nisso e, mais, a maior parte acha que "é dono de um gato", mas é ao contrário, o gato é que "é dono de um humano" porque tem como responsabilidade ensiná-lo, protegê-lo, trazer-lhe ensinamentos, entre outras coisas.
CC