quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Duas gatinhas

Desde pequena sempre tive cães e gatos. E lembro-me de pensar muitas vezes que seria muito engraçado se eles falassem connosco. Então, dava por mim a olhar nos olhos do cão ou gato para ver se havia uma espécie de comunicação telepática e, de repente, eu entendia o que ele me dizia. Mas nunca aconteceu.

Tenho imensas histórias com animais de estimação, mas quero contar duas histórias com gatinhas para mostrar a forma como as duas foram importantes para mim por motivos diferentes.

A certa altura na infância, convivia connosco uma gata preta e branca - a Bita - que era parideira. Tinha ninhadas atrás de ninhadas. Foi uma gata de rua que a minha mãe acolheu já adulta. Ela não gostava muito de carinhos nossos, fugia quando nos aproximávamos dela. Mas, no entanto, fez da nossa casa a sua morada permanente ou para onde voltava mais vezes. Durou muitos anos - 15 ou 16 anos. A certa altura, talvez por ter sido mãe muitas vezes, acabou por adoecer com um problema nas maminhas e o fim começou a aproximar-se. Um dia bem cedo, cerca das 6H00 da manhã começou a miar muito alto no pátio. Como não era costume, eu e o meu irmão decidimos nos levantar e ver o que se passava. Ela deixou-nos fazer ‘festas’ (carinhos), mas não saía do mesmo sitio e continuava a miar e a olhar para a porta para ver se a minha mãe aparecia. Quando ela chegou, a gata, sempre a miar, fez com que a seguíssemos e deitou-se a um canto, muito fraca. A nossa mãe explicou que ela estaria a morrer e que nos foi chamar para se despedir de nós. Claro que começámos a chorar. Ela estava a deixar-nos fazer ‘festas’ enquanto miava de dor e de tristeza, cada vez mais baixo (como que desistindo e se despedindo) enquanto nós continuávamos a chorar. Foi um momento muito doloroso para mim, por isso me lembro. Pouco tempo depois (talvez minutos, já não sei precisar) ela acabou por morrer ali na nossa presença. Isso foi algo que me comoveu para sempre e foi aí que tive a minha prova de que os animais comunicam connosco à sua maneira.

Também acredito que os gatos têm uma missão espiritual para com o ser humano. Há quem diga (e eu acredito) que quando um gato escolhe o seu dono é porque o deve proteger, porque tem uma divida kármica com ele que vem de vidas passadas. E isso foi o que aconteceu com a minha atual gatinha. Foi ela que me escolheu. 

Bom, então, depois de ter tido uma má experiência com um gato (mas isso fica para outra altura), eu decidi que não queria mais animais. Até porque vivia num apartamento, passava muito tempo fora de casa e achava injusto ficar um animal sozinho o dia todo fechado. Passados dois meses de ter tomado esta decisão, planeei um fim de semana com o meu filho a um local onde nunca tínhamos ido. Nessa manhã de fim de semana, fomos até ao farol e o mar estava bravo. De repente, ouvimos e vimos uma gatinha muito pequenina (2 meses). Pegámos nela e tentámos logo ali procurar donos. Mas sem sucesso. O meu filho pediu para ficar com ela, mas eu recusei. Levei-a ao veterinário para ver se ele a acolhia, mas não. Mais tarde, tentei que algum amigo do meu filho ou algum aluno meu ficasse com ela, mas não. Bom, comecei a intuir que ela deveria ficar connosco e com mais ninguém. Assim foi. Foi crescendo connosco e agora é a minha outra ‘filha’. Ela é o animal mais querido que já tive até hoje. Com ela, aprendi a conectar-me novamente com os animais: dá-me muitos carinhos (lambidelas) e eu retribuo os carinhos, ela dorme comigo (algo impensável anteriormente), aprendi a “falar gatês”, pois respondo a todos os tipos de miadelas que ela faz (é muito engraçado entender os diversos sons que ela faz para comunicar comigo), aprendi novamente a amar! Uma gatinha tigrada que é perfeitamente comum conquistou um lugar bem especial no meu coração. 

Eu ficaria muito triste se ela desaparecesse e isso aconteceu há duas semanas. Agora já não vivo em apartamento e como ela é caçadora, de vez em quando, vem oferecer-me presentes: passarinhos, ratinhos, osgas, enfim. Outro dia aventurou-se mais e, como não me deito sem ela, andei até tarde à sua procura. Não a encontrei e fiquei muito triste. Juro que pensei que ela já teria cumprido a missão que tinha comigo e que chegou a hora de ir embora. Mas, felizmente, esteve desaparecida cerca de 24 horas e voltou. Acho que foi um alerta para eu entender que ela não é minha e que a qualquer momento, pode partir. Tenho de aprender a desapegar. 
Na semana passada voltou a desaparecer e agora já entrego ao céu. Vai ser o que tiver de ser. 
Vou tentando usufruir da sua companhia enquanto tenho a bênção de a ter na minha vida. 

É bonito saber que temos pequenos anjos que nos são enviados com determinado propósito, mas a maior parte das pessoas nem pensa nisso e, mais, a maior parte acha que "é dono de um gato", mas é ao contrário, o gato é que "é dono de um humano" porque tem como responsabilidade ensiná-lo, protegê-lo, trazer-lhe ensinamentos, entre outras coisas.
CC

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