segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Pinceladas

Comecei a fazer traços com o pincel aos 3 anos quando os meus pais improvisaram um pincel com fios do meu cabelo. Lembro me misturar com água as cores das aguarelas e passar no papel branco. Era pura magia. Antes de saber escrever, o que aconteceu só com 7 anos, na escola, já sabia usar o pincel, desenhar e fazer pequenas contas com números. A minha mãe, por divertimento, me tinha ensinado escrever números, somar e subtrair. O desenho fez sempre parte do meu universo íntimo e os meus pais me incentivaram e ao mesmo tempo deixaram bem claro que o ideal era eu ter uma profissão estável que servisse muitas pessoas, e que a arte ficasse para hobby. Segui ciências exatas e nos meus tempos de faculdade, na Roménia, passava dias nos museus e a desenhar e pintar nos parques. Com a vinda para Portugal, nos primeiros anos tive que deixar a arte só no meu interior, mas logo que consegui recomecei a materializá-la. Quando comecei o doutoramento fiz um presente a mim mesma : inscrevi me no curso de iniciação ao desenho na Sociedade Nacional de Belas Artes. Tive a sorte de ter aulas com o escultor Quintino Sebastião. Ensinava "a linha dos 5 segundos" : enquanto o modelo se movimentava, deveria apanhar um movimento que vibrasse comigo e sem tirar os olhos do modelo, deixar a mão desenhar uma linha contínua, durante 5 segundos. Essas aulas de desenho, com modelo em movimento, mudaram me por dentro. Levaram me ao autoconhecimento e a perceber que eu era muito mais do que lógica e raciocínio. Segui os quatro níveis (anos) de Iniciação ao desenho e algumas aulas de modelação em barro. Adorava traços, coloridos ou não, e inscrevi me outra vez no curso a partir do segundo ano. Adoro a maneira delicada como se pega num pincel ou num lápis para desenhar, que é bem diferente da maneira certeira como se pega a caneta para escrever. Quando acabei, pela segunda vez o curso, o professor Quintino decidiu afastar-se da SNBA. Um dia, ao perguntar lhe como desenvolveu este método de desenho, sem receitas e ensinando sobretudo a observação da realidade, indicou me o livro "The natural way to draw" de Kim Nicolaides. Fiz um pós doutoramento de 3 meses em Paris e aproveitei plenamente : nos fins de semana ia para museus desenhar, horas e horas. Um dos meus preferidos era Musée de l'Armé onde desenhava armaduras. Nessas viagem encontrei, como por acaso, uma revista com um capacete de armadura que me fascinou tanto, que o modelei em barro. Aí começou a minha grade paixão pelo modo de vida cotidiana na idade média incluindo a culinária. Comecei um curso de escultura nas Caldas da Rainha em que aprendi a passar o capacete em barro para resina e bronze, mais tarde um curso de cerâmica e mais recentemente um curso de vitrofusão. As minhas peças e instalações provavelmente não são aquilo que alguém gostaria de ver a sua frente todos os dias mas, saíram do meu coração e da minha intuição e me ajudaram a trilhar o meu caminho. 

AMT

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